PALERMICES, SALOIICES E ALDRABICES
Um brasileiro qualquer, parece que perito em mudar discos em locais nocturnos, veio a Portugal.
Dizem as crónicas que o tipo, coitado, parece que anda a dormir com a Madona.
O fulano foi apoteoticamente recebido em Portugal. À chegada ao aeroporto, havia meninas meio histéricas, polícias, guarda-costas, assessores e secretários, ou coisa parecida. Os jornais, as televisões, as rádios, deram ao assunto o “merecido” destaque. As capelinhas enchem-se de gente para ver o camarada mudar discos.
Antes de andar metido - diz-se - nos lençóis da cinquentona, lençóis por onde - diz-se - já passou uma multidão de meninos e meninas, rapazes e raparigas, senhoras e senhores, o rapaz era tão conhecido como o careca do quinto esquerdo.
Agora, é uma celebridade. Move as gentes como move os discos, anda com as cabecitas à roda, dá entrevistas, passou a cineasta, tem direito escolta.
Nos demais países, não sei o que se passa. Se é como cá, não dou a ponta dum chanfalho pelo futuro da civilização.
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Por falar em civilização, ocorre-me ao bestunto o parque de estacionamento da Praça de Touros do Campo Pequeno.
Durante as horas de trabalho a coisa está a abarrotar, o que quer dizer que há inúmeras empresas que dão aos funcionários o fringe benefit de um lugarinho à borla.
À noite, há lugares com fartura.
Nos dias em que há espectáculos na Praça, os arrumadores, quando necessário, arrancam os pilaretes da Câmara para pôr centenas de carros em cima dos passeios, em frente dos portões, nas esquinas, em segunda fila, um fartote. A malta bate-se por um sítio qualquer onde meter a carripana.
No Parque, há lugares com fartura, quase como nas noites normais.
Quer isto dizer:
a) Que os lisboetas não passam de um bando de selvagens;
b) Que a Câmara se está nas tintas para os moradores que lhe pagam o estacionamento, tendo para tal que perder um dia por ano à conta da EMEL e das suas papeladas;
c) Que a polícia é uma máquina cara que não funciona, a não ser quando não é precisa;
d) Que os donos do parque são uns alarves, porque não pagam a uns polícias para empurrar os carros lá para baixo e para multar os que andam cá em cima a perturbar a vida de quem quer dormir e que, teoricamente, tem direito, outorgado pela EMEL (um organização de tipo soviético), a um lugar junto aos passeios;
e) Que não há nada a fazer, pelo menos enquanto a Câmara estiver entregue a quem está;
f) Que, se a Câmara estivesse entregue a outros, se calhar era a mesma coisa, uma vez que os polícias foram feitos para passear de carro durante o dia, para fazer umas reclamações sindicais e para, tal como a Câmara, se borrifar no cidadão comum.
8.3.10
António Borges de Carvalho