SUSPEITAS DO IRRITADO
Fui a Praga nos primeiros tempos da liberdade. Era uma cidade bonita (no centro) e triste, onde nem um gelado se podia comer, onde músicos de qualidade pediam esmola nas ruas ou tocavam em decrépitos restaurantes, onde os hotéis cheiravam ainda aos bolores do bolchevismo. Para além de tudo isto, era uma cidade de gente antipática.
Mais recentemente, fui lá duas ou três vezes. A cidade continuava bonita (no centro), já havia gelados, os músicos já tocavam em salas de concerto e catedrais e havia bons hotéis à escolha. De resto, continuava a antipatia visceral de toda a gente, a mais completa ausência de hospitalidade, para não falar em racismo e vigarice.
Por isso que não me espante a forma como o senhor Vaclav Klaus recebeu o Presidente da República que temos. Na circunstância, não podia ter sido mais rasca nem mais ordinário.
Não vale a pena repetir o que o fulano disse, porque toda a gente sabe.
Vale a pena deixar algumas perguntas:
a) Porque é que o Doutor Cavaco não lhe respondeu à letra?
b) Porque se deixou humilhar sem reagir?
c) Porque é que Doutor Cavaco, à primeira cavalidade, não se meteu no avião para Lisboa, mandando o cocheiro ser rasca com a família?
d) Porque é que o Dr. Cavaco não lhe disse que o euro é o euro e que Portugal não tem a margem de manobra da Chéquia?
Isto faz com que me venha ao espírito uma terrível dúvida: será que os amigos Cavaco e Klaus, ambos economistas, ex-ministros das finanças, ex-primeiros-ministros, se combinaram para pôr em causa as contas do senhor Pinto de Sousa?
O IRRITADO é insuspeito quanto à consideração e à estima que dedica ao senhor Pinto de Sousa.
A ser verdade, esta suspeita figuraria uma coisa muito feia, não é?
17.4.10
António Borges de Carvalho