GENTE FINA
Em espampanante demonstração de destreza intelectual, esmerada educação, nobreza de sentimentos, cavalheirismo parlamentar e elevada moral republicana, o senhor Pinto de Sousa, nosso bem-amado primeiro-ministro, achou por bem responder a uma ordinária invectiva do Louça – que lhe disse que estava “a ficar mais manso que de costume” – com a delicada expressão “manso é a tua tia, pá”.
Atente-se na altura deste arroubo de génio. Admire-se a espontaneidade da resposta, a finura do tratamento (por pá), a forma sibilina de inculcar os lésbicos vícios da tia do adversário (“manso” no masculino), a profundidade, a sagacidade que representa a insinuação da bovina, ou vacum, mansidão da família Louça em geral e do Louça em particular, por cromossomática via!
Que maravilha!
Na aristocrática intervenção só faltou a coerência final.
É que, por causa de gesto de natureza semelhante, o célebre senhor tinha, há meses, despedido um dos seus ministros, ainda por cima um dos grandes luminares da economia nacional.
Toda a gente esperaria que, à saída do plenário, o notabilíssimo senhor Pinto de Sousa se tivesse despedido a si próprio, dando à Nação, mais uma vez, a luz da sua inigualável coerência. Coisa que a Nação inteira, prenhe de júbilo, de felicidade e de esperança, reconhecidamente agradeceria.
Não o fez. É pena. Não devia perder oportunidades como esta para calar as vozes críticas que lhe chamam rolha, aldrabão de feira, rei dos rabos-de-palha, patrão dos esqueletos nos roupeiros, etc. etc.
Uma pena.
18.4.10
António Borges de Carvalho