A NÉVOA E O NÉVOA
Justa é a indignação dos irmãos Fernandes, causada pela incrível absolvição do senhor Névoa. Que horror! A justiça enevoada!
Qual a origem disto tudo? Será bom fazer um bocadinho de história.
Em tempos, o senhor Névoa fez um contrato de permuta dos seus terrenos do Parque Mayer com os da defunta Feira Popular, propriedade da CML.
Este contrato andou em bolandas na Câmara e na Assembleia Municipal. Até que o Prof. Carmona Rodrigues, de acordo com o Névoa, nele introduziu umas alterações. A nova versão do contrato mereceu esmagador apoio dos senhores deputados municipais (PS+PSD+CDS+BE).
Postas as coisas nestes termos, pareceria ao senhor Névoa que estava o problema resolvido. Mas adveio o Fernandes (José) e tudo se baralhou, com o argumento de que a CML tinha sido enganada na permuta, já que os terrenos da Feira Popular valeriam muito mais que os do Parque Mayer.
Para se ajuizar da justeza da reclamação, haveria que avaliar os dois bens em causa. Aqui começa a confusão. Os terrenos da feira tinham um valor relativamente fácil de encontrar - bastava multiplicar o número de metros quadrados de construção que a CML se comprometia a autorizar pelo valor de mercado dos terrenos para tal disponíveis na mesma zona. Os do Parque Mayer não tinham avaliação possível, primeiro porque ninguém sabia o que lá se ia pôr, segundo porque há elementos subjectivos, de ordem cultural, histórica e patrimonial, que não é fácil exprimir em números.
O Parque Mayer valeria uma coisa se lá fosse construído um marco urbano e arquitectónico como o do arquitecto Ghery, outra valerá se se vir reduzido a mais um projectinho do habitual nacional-pequenismo, apartamentos, input “cultural”, etc., e não valerá um chavo se lá meter algum projecto da autoria ou da assinatura do primeiro-ministro.
Neste tipo de avaliações tudo é possível. É natural que o senhor Névoa fizesse os possíveis por fazer o valor da coisa chegar ao do da Feira Popular. É natural que a CML fizesse precisamente o contrário. Facto é, repito, que o negócio se fez e que foi a provado por todas as instâncias camarárias com legitimidade para tal.
É evidente que, quando o nacional-pequenismo correu com o arquitecto Ghery, passou a ser possível pôr em causa o putativo valor do Parque Mayer. Disso não tem o senhor Névoa culpa nenhuma, nem é legítimo que se ponha em causa o negócio, a não ser que se provasse - o que não aconteceu - que havia coisas menos próprias por detrás das avaliações ou das negociações.
Ora o Fernandes (José) que, por razões ideológicas, abomina a generalidade dos névoas deste mundo, resolveu atacar a coisa. Moveu mundos e fundos, e conseguiu que tudo fosse posto em causa.
Havia então que desacreditar os principais intervenientes no negócio: processar o prof. Carmona e arranjar uma estrangeirinha para tratar da saúde ao Névoa.
Cabe aqui caracterizar este cidadão. Self made man, homem rico e influente, antes de mais lá para o Norte, depois pelo país fora, Lisboa incluída. Um espertalhão. Um tipo que corta a direito, isto é, que não olha a certos meios para conseguir o que quer ou para que não o chateiem. De qualquer forma, um tipo com obra feita, considerado e amado na sua região.
Ora não é fácil fazer a cama a um fulano deste calibre. É, por isso, evidente que o mano Ricardo lhe estendeu a casca de banana, eventualmente insinuando que, com uns tostões, calaria o mano Zé. É o que se torna evidente nas escutas “legitimamente” efectuadas, das quais se pode concluir que o mano Ricardo tinha previamente preparado o terreno. De tal forma que já sabia o que se ia passar, assim se explicando o pedido de colaboração da Polícia Judiciária. Conseguida a gravação em que o Névoa, caindo na esparrela, propôs o que, evidentemente, já lhe tinha sido proposto, os manos viram os seus esforços coroados de êxito.
Em suma, uma tramóia, uma emboscada policial devidamente montada, a fazer lembrar os velhos tempos em que a bufaria era utilizada, ainda que para outros efeitos.
Tudo isto, ao contrário do que quem ler está a pensar, não se destina a ilibar o Névoa das culpas de que foi absolvido. O IRRITADO acha que o Tribunal da Relação meteu a pata na poça. Na opinião do IRRITADO o homem devia ter sido condenado, e de forma mais dura do que o fez a primeira instância.
Mas isto não “iliba” os manos Fernandes.
Primeiro, porque causaram à minha cidade os monumentais prejuízos que a paralisia do Parque Mayer e a insalubre e horrenda esterqueira em que se converteram os terrenos da Feira Popular tão violentamente demonstram
Segundo, por serem iguais, ou quase, a polícias de má memória.
Terceiro, por andarem por aí armados em moralistas, ao mesmo tempo que aprovam, sem um protesto, vergonhas como as dos contentores da Alcântara, para não falar da restante “obra” do vereador Fernandes e da Câmara de que faz parte.
Se os cidadãos que são objecto de tentativas de suborno disserem que não, deixará de haver subornadores.
Não precisam de se transformar em bufos, quer dizer, no que esta gente é.
24.4.10
António Borges de Carvalho