TARDE PIASTE
Às vezes, há coisas que fazem pena.
O Dr. Mário Soares não é pessoa que me mereça propriamente pena, mas os nobres sentimentos do IRRITADO, neste caso, sobrepõem-se à escarninha mentalidade do autor.
Que teria passado pela cabeça do ancião para dizer aos cabo-verdianos que jamais se deveriam ter tornado independentes?
Então um homem que fez tudo o que estava ao seu alcance para os obrigar a ser independentes – em Cabo-Verde nunca houve luta armada – vem agora dizer que foi asneira?
Então os direitos dos colonizados?
Então os ventos da história?
Então a autodeterminação?
Foi tudo para o caixote do lixo?
Então, 35 anos depois, o Dr. Soares vem negar o que foi a principal obra da sua vida?
Então o Dr. Soares lembra-se de dizer tal coisa ao único novo país que lucrou com a independência?
Interessante é verificar que o senhor parece atribuir o erro da independência aos cabo-verdianos, como se ele, Soares, nada tivesse a ver com o assunto. Os cabo-verdianos independentistas, é bom dizê-lo, jamais tiveram apoio popular para a mais leve acção armada, nunca passaram de paleio e, para defender as suas ideias à cacetada, como é sabido, serviram-se dos guinéus, na Guiné. Em Cabo-Verde, ‘tá quieto!
Não se tornaram independentes, foram tornados. E é quem tal os tornou que vem dizer que foi asneira sem, sequer, fazer o seu pessoal acto de contrição!
Estará doido, ou encontrou-se com o Alzeimer nalguma esquina? Faz pena.
É verdade que Cabo-Verde e São Tomé e Príncipe, se tivessem sido bem orientados pelos descolonizadores e pelos líderes que, para tal, o MFA e o Dr. Soares importaram à pressa, seriam hoje regiões ultraperiféricas da União Europeia e não tinham tido metade das chatices que tiveram e ainda têm.
Aliás, pelo menos em São Tomé, sítio que o IRRITADO conhece relativamente bem, houve vários “descolonizados” de valia – os que não tinham escola de Moscovo ou do MRPP/PC – que preconizavam uma solução autonómica. O actual Presidente da República lá do sítiom era um deles.
Mas a demagogia da descolonização era totalitária. Ou tudo ou nada. Os que pensassem diferente arriscavam a cabeça. Tiveram que se calar. Quem mandava nestas coisas era o Alva Rosa Coutinho, o Cunhal e… Mário Soares!
Tarde piaste, e mal, é o que agora se pode dizer.
26.4.10
António Borges de Carvalho