O RICHELIEU DA MUSGUEIRA
O companheiro Passos, possuído de nobre fervor patriótico, foi meter-se na boca do lobo!
Arriscou-se a aparecer lado a lado com o senhor Pinto de Sousa, talvez achando que, excepcionalmente que fosse, o homem seria capaz de alguma lealdade e de alguma educação.
Comove-me a ingenuidade do jovem.
Quanto ao seu interlocutor, foi lapidarmente coerente com a sua natureza. Qual escorpião que a rã ajuda a fazer a travessia e que, transposto o obstáculo, pimba, lhe espeta o ferrão nas costas, o senhor Pinto de Sousa, logo a seguir à estrambólica reunião tratou de mandar o inacreditável fulano das obras públicas anunciar a continuação das loucuras do costume: auto-estradas, aeroporto, CAV (dito TGV), a terceira travessia do Tejo… dando ao Passos um raminho de urtigas: o adiamento de um troço qualquer.
Cheio de justificado orgulho, o primeiro-ministro olha para o espelho e proclama: quero cá saber o que diz ou pensa o Passos! Vá dar ordens à tia! Se calhar estava convencido que vinha a São Bento e que me dava a volta. Nem pensar! Agora que o tenho na mão com as promessas que fez, é que vai ser gozar! Se o gajo não estiver pelos ajustes, encarregar-me-ei de lhe chamar aldrabão e desleal. Se aguentar a malha, então lixa-se com o partido e com o eleitorado.
Genial! Digno do Richelieu da Musgueira!
30.4.10
António Borges de Carvalho