MAUS CONSELHOS
Não sei porquê, às vezes ponho-me a classificar as pessoas que andam nas bocas do mundo. É discutível que tenha o direito de o fazer. Mas o IRRITADO impõe-se.
Nas várias classificações que inventei, pus o senhor Pinto da Costa em número um dos “homens mais desagradáveis de Portugal”. Nas mulheres, a mais desagradável é, de longe, a dona Cância.
Não conheço nem um nem outro, nem me apetece conhecê-los. Mas, como o visível do invisível é o que aparece, regulo-me pelo que aparece.
A dona Cância, por exemplo, dá-nos hoje mais uma demonstração do merecimento da classificação que lhe atribuí.
Numa das suas razoavelmente mal escritas diatribes, a senhora insurge-se contra o Papa.
Começa por protestar contra o ambiente de “histeria confessional” em que vivemos, coisa que, mais adiante, classifica de “estado de sítio”.
A seguir, a desagradabilíssima criatura protesta contra o facto de o Papa ser referido na imprensa como “Sua Santidade” (as maiúsculas são minhas), como se os títulos oficiais fossem determinados pela câncias deste mundo, passando a Rainha de Inglaterra a ser tratada por dona Isabel em vez de por Vossa Majestade e o Presidente Cavaco Silva por você em vez de por Vossa Excelência.
Depois, revolta-se contra a tolerância de ponto dada pelas autoridades, como se fosse possível chegar ao trabalho e trabalhar no meio do pandemónio em que a cidade vai estar.
Prenhe de “verde” indignação, esgrime então contra o putativo facto de os caixotes do lixo ficarem por recolher durante três dias. Não sei onde foi a harpia buscar os três dias, nem jamais a vi protestar com a falta de higiene por ausência de recolha do lixo quanto a coisa é motivada por alguma greve.
A fulana remexe-se, frenética, por se prever que muita, muita gente, vai ver o Papa.
É um incómodo. Pois é. Mas nunca a vi protestar contra os incómodos que causam as manifestações da CGTP/PCP ou as maratonas do senhor Sampaio ou do ex-amante.
Depois, ai, depois a criatura entra em delírio. Acha que, por ser dada ao Papa a recepção que formalmente lhe é devida por ser chefe de Estado, e sociologicamente por arrastar as multidões que arrasta, se pretende inculcar que todos os portugueses são obrigatoriamente católicos, ou tidos como tal. O que é, ou estúpido ou mentiroso.
Só lá vai quem quer. O problema da dona Cância é que há muitos que querem. E ninguém ou quase, quereria ir ver o Fidel Castro ou assiste às paradas de maricas que a indivídua tanto admira.
A ninguém passaria pela cabeça criticar as pessoas que vão, às centenas de milhar, ao futebol, ou ao Rock in Rio, nem ninguém diria que, por isso, toda a gente passava a ser adepta da bola ou admiradora dos Sex Pistols.
Se se tratar do Papa, para a bruxa, a coisa muda de figura. Não existe o direito, nem de receber o Papa como há milhões de portugueses que o querem, ainda menos o de o Estado dar ao acontecimento a segurança e o relevo que tais portugueses entendem que o assunto merece.
Se fosse o Cristiano Ronaldo, enfim… mas o Papa? Alguém deve andar a brincar com os “direitos” da rapariga.
Dona Cância considera-se atingida na sua personalidade pela forma como há uns tipos que reagem a estas coisas e não reagem da mesma forma quando ela sai à rua ou quando cá vem o Dalai Lama.
In fine, a mulher confessa a razão de todo o seu militante quão tresloucado jacobinismo.
É que, escreve, “só conheço uma orientação, a da minha consciência”.
Deve ser por isso que anda tão mal aconselhada.
7.5.10
António Borges de Carvalho