SOARADAS
Com a sua habitual argúcia, o ex presidente Soares veio chamar a atenção da plebe para a indispensabilidade de aceitar com bonomia e patriotismo o aumento de impostos e a estabilidade das despesas decretados pelo governo(?) do senhor Pinto de Sousa, medidas aliás desgraçadamente apoiadas pelo Passos Coelho, cheio de “sentido de Estado” – na opinião do mesmo proeminente senhor.
Para ilustrar este lapidar pensamento, serve-se o opinador dos exemplos da Irlanda e da Espanha, cujos sindicatos aceitaram, amarga e responsavelmente, medidas do mesmo tipo, ainda que acrescentadas de violentos cortes na despesa, o que não é o nosso caso.
Algo me diz que, se tais medidas tivessem sido tomadas por um governo do PSD, a mesma pessoa diria que se tratava de uma violência sem nome, uma manobra do “neo-liberalismo”, um ataque desapiedado ao povo português. Nessa circunstância, Soares, em vez de referir a Irlanda e a Espanha, referiria a Grécia e alertaria a malta para a instabilidade social acarretada por tais e tão injustos abusos do poder.
Cada um vê as coisas como quer, podendo achar, com toda a sinceridade, que são pretas ou brancas conforme as suas conveniências. Nisto, Soares é mestre.
Ponhamos o assunto num plano mais de acordo com a realidade.
Após estes anos de desbragada e paranóica rebaldaria socialista, não há outro remédio senão fazer o que o governo(?) fez, evidentemente esquecendo-se, como é costume, do fundamental, que é deixar-se de iniciativas malucas, acabar com todas as estatais inutilidades, as que criou – fundações, institutos, empresas, autoridades, etc., e com as que andam por aí há décadas – por exemplo, a RTP.
Disto não se lembrou o proeminente Soares.
Por outro lado, Soares esqueceu-se de uma coisa muito simples. É que, na generalidade dos países da raia do terceiro mundo, como Portugal e a Grécia, ainda vicejam partidos comunistas, sindicatos de obsoleta mentalidade e líderes que acham que podem pôr as pessoas a comer fantasias fáceis de apregoar mas que levam, inexoravelmente, à maior das misérias e à mais completa ausência de liberdade.
É ouvir os camaradas Jerónimo e Loiça a ribombar a cassete, é ver o olhar assassino do camarada Carvalho da Silva, é ver o inútil e bafiento espernear daquele senhor careca da CGTP cujo nome não tenho presente.
Este, segundo disse, ainda não sabe bem o que vai fazer, sendo certo que vai fazer alguma coisa, aquele está a atiçar as massas para os desmandos de rua e para a inútil, estúpida e malevolente barulheira do costume.
Há, no entanto, um levíssimo sinal de esperança. É que, pelo que tenho ouvido, alguma malta nova dá sinais de já ter percebido que o trabalho é mais importante que o emprego e que “quem quer festa sua-lhe a testa”.
A partir deste tipo de subida ao que devia ser a verdade da vida, talvez venha a formar-se alguma gente capaz de se pôr a trabalhar, o que é a melhor maneira de acabar com o socialismo.
Sonhos do IRRITADO, dir-se-á. Mas não é o “sonho que comanda a vida”?
17.5.10
António Borges de Carvalho