EM DEFESA DE UMA JOVEM PERFEITA
Bruna, professora de actividades extra curriculares numa escola primária de Trás-os-Montes, resolveu dar aos seus alunos um exemplo do que é uma actividade extra curricular verdadeiramente produtiva. Exemplo tanto mais meritório quanto ajuda as criancinhas a perceber que o desporto, as visitas de estudo e coisas do género são muito bonitas mas não dão de comer a ninguém.
Em acção altamente pedagógica, a insigne professora demonstrou aos educandos que se pode ganhar umas massas na extra curriculariedade - passe o neologismo.
Com este nobre objectivo, apresentou-se aos senhores da Playboy, mostrou-lhes em pormenor os seus atributos e, depois de, em reunião temática, o comité mamário e nalgal da revista ter emitido, por unanimidade, parecer favorável, estabeleceu um contrato a todos os títulos dignificante : ela punha-lhes o corpinho à disposição para umas fotografias em pêlo, eles pagavam uns tostões, a rapariga dava um exemplo de alto valor aos seus alunos, a Playboy contribuía gratuitamente para o lançamento de mais uma “famosa”, o público repenicava a imaginação olhando embevecido os atributos eróticos da trasmontana, ela iria ter mais contratos e ofertas de trabalho especializado, o que lhe permitiria melhorar o nível de vida. As criancinhas, por seu lado, lucravam imenso com o carinhoso exemplo da professora. Todos ficavam felizes.
Todos? Não! Instalou-se uma polémica, obviamente provocada por infames forças ocultas actuando a coberto das trevas. Gente sem escrúpulos pôs-se a criticar a doce rapariguinha. Imagine-se que houve até quem dissesse que se tratava de um escândalo!
Era importante reagir!
Foi assim que o Diário de Notícias, em defesa da verdade, pôs a palavra escândalo entre aspas. Sendo sabido que o jornal em causa é especialista na exposição e promoção de traseiros rechonchudos e redondezas congéneres com fins comerciais, não admira que tenha tomado posição em defesa da pobre pequena.
Houve também um senhor que veio à liça declarar que se tratava de uma questão da vida privada da inocentinha e que ninguém tinha nada com isso. Ainda bem que ainda há quem saiba o que é a vida privada e a respeite.
Um grupo de jovens cibernautas pôs imediatamente em circulação um movimento de apoio à nossa heroína. Muito bem. Os jovens têm todo o direito a defendê-la, por certo almejando mais uns aparecimentos dela em poses artístico-eróticas, coisa que, segundo o governo, muito contribui para a educação e o progresso social da humanidade, sobretudo para as meninas e os meninos da instrução primária.
A progenitora da docente mostrou ser uma verdadeira mãe, preocupada com o futuro do fruto do seu ventre. Veio para os jornais mostrar o seu indefectível apoio à educativa exposição da sua obra tal como veio ao mundo mas mais crescidota.
E muitas ouras progressistas opiniões foram lidas, vistas e ouvidas, demonstrando à saciedade que os benefícios do progresso já chegaram a Trás-osMontes, ao contrário do que dizem certos reaccionários.
Destes, destaque-se a vereadora da Câmara não sei donde, que, ao arrepio da educação sexual das massas em geral e dos trabalhadores em particular, mormente das criancinhas da instrução primária, resolveu mandar a Bruna para o arquivo e prepara-se para não lhe renovar o contrato! Indecente!
O IRRITADO deseja o maior dos sucessos à nossa Bruna, seja na Playboy, seja em quaisquer outras instituições da especialidade, Diário de Notícias incluído.
18.5.10
António Borges de Carvalho