REPÚBLICA DA TRETA
O governo de Sua Majestade Britânica, meia dúzia de dias depois de tomar posse, anunciou um corte de € 7.200.000.000 na despesa do Estado.
Disse ao povo porquê, como e onde: nas despesas dos ministérios, no congelamento da contratações para a função pública, na redução de organismos dependentes do erário público, no fim do cheque bebé e de programas de apoio ao emprego que não têm servido para nada.
Além disso, fará cortes na informática, os funcionários e os membros do governo passarão a viajar em segunda classe e a ir para o trabalho a pé, de transportes públicos ou em carros partilhados.
Serão tomadas medidas draconianas de controlo das despesas, disse o governo.
Ainda ninguém falou em aumento de impostos. Cortar na despesa foi a primeira atitude.
Ao contrário dos Britânicos, que formaram um governo respeitando o resultado eleitoral, somos vítimas do manobrismo indecente do partido mais votado, da sua total falta de respeito pela vontade do eleitorado, e de um Presidente da República que assobiou para o ar e, ao contrário de Sua Majestade, avalizou um governo instável e patarata ao mesmo tempo que tecia loas à estabilidade e ao bom senso.
Andamos há meses no jogo da vermelhinha. Nunca se sabe o que está debaixo da tigela.
A despesa está esquecida, como esquecida anda há muitos anos.
Os impostos aumentaram.
O sacrossanto "Estado social” caminha para o colapso.
O governo mete os pés pelas mãos, despacha e contra-despacha, toma medidas inconstitucionais, regulamenta antes de legislar, o diabo a quatro.
O PSD compromete-se nisto, com um pé dentro outro de fora, não se sabendo nem quanto dentro nem quanto fora.
O CDS faz umas birras mais ou menos inconsequentes.
Os partidos comunistas aproveitam para agitar as massas, contando-lhes as histórias do costume, isto é, parasitando a ignorância e o analfabetismo.
Nada anda, nada deixa de andar.
A “Europa” olha-nos como um bando de pataratas comandados por um ignorante ridículo e convencido.
O Presidente da República parece que decidiu ficar de fora e transformar-se num produtor de “bocas”, acertadas mas inoperantes.
Se não houvesse Presidente da República seria bem melhor, ou seja, as responsabilidades ficavam em quem as tem, e quem as tem não se podia desculpar com o não exercício, pelo ocupante do Palácio Real de Belém, dos poderes que tem, ou que não tem, conforme as opiniões e as ocasiões.
Um olhar ao que se passa lá por fora talvez não fizesse mal a esta gente. Isto, se ainda houvesse algum bom senso, alguma lógica, algum sentido de responsabilidade, coisas que se perderam, parece que definitivamente.
25.5.10
António Borges de Carvalho