DO SEXO E DO SÉCULO
Antigamente, as meninas e os meninos eram educados pelas catequistas, os professores e os pais.
O sexo era uma coisa vaga, misteriosa e, as mais das vezes, fruto de terríveis pecados.
Crescendo, os meninos e as meninas começavam a dar cada um a sua interpretação ao que lhes tinham ensinado, ao mesmo tempo que descobriam em si próprios impulsos e instintos novos, surpreendentes, que, levavam a experimentações mais ou menos lúdicas, mais ou menos felizes, mais ou menos inquietantes, mais ou menos aflitivas.
Falava-se nessas coisas à socapa, nos liceus e nas escolas. Cada um ia aprendendo, aos poucos, o que a sexualidade de cada um impunha, umas vezes tornando-se, com o andar do anos, promíscuos e libertinos, outras praticando ou exagerando as normas restritivas que lhes tinham sido ensinadas, outras nem uma coisa nem outra, algo lá pelo meio, que é o que acontecia à maioria das pessoas.
Descobria-se aos poucos esse mundo sensorial individual e a forma de se relacionar com os correspondentes mundos dos outros. No fundo, toda a gente conservava um certo recato, ou por se tratar de terrenos onde imperava o “fruto proibido”, ou por mero respeito por si próprio, ou por respeito pelos demais, ou por ter a instintiva noção de que se tratava de coisa individual e pouco comunicável.
Quem não quisesse procriar mas não se coibisse de actividades, ou comprava “camisas” aos vendedores de gillettes que pululavam no Rossio, ou ia àquela farmácia especial onde se vendiam velinhas “erbon” ou coisas do género, ou tinha relações furtivas com prostitutas desinfectadas pelo governo.
Não seria bonito, mas havia um gosto, um gozo inigualável na progressiva descoberta que cada um ia fazendo de si mesmo.
Depois, descobriu-se a pílula, inventou-se uma série de gadgets, legalizou-se o aborto, protegeu-se as relações de facto, promoveu-se o divórcio, etc., tudo acabando entre nós, para já, na “normalização” dos defeituosos sexuais.
Ou seja, mercê de vários “avanços civilizacionais” e “educativos”, aboliu-se a descoberta.
O sexo vai passar a ser uma coisa tipo Mocidade Portuguesa, onde as criancinhas, em vez de marchar e cantar hinos patrióticos, passam a ser “esclarecidas” sobre as várias modalidades das práticas sexuais, a todas se atribuindo o mesmo valor, e todas sendo “normais” e “naturais” desde que se não tenha filhos. Tudo na certeza que, em caso de “engano”, há sempre ou a pílula do dia seguinte ou uma raspagem à disposição com 200 euros de incentivo estatal.
Nesta senda, fiquem os meus leitores a saber que, no próximo ano lectivo, os vossos filhinhos, quer vocês queiram quer não, serão devidamente instruídos sobre matérias tão importantes como a reprodução e os seus perigos, o sexo “ao natural” e as suas várias posições, mais o oral e o anal, e, enfim, como não podia deixar de ser, sobre toda a necessária parafernália de instrumentos, medicamentos, artefactos e conselhos higiénicos, preventivos e curativos.
Exemplificando, as vossas criancinhas, tal como se passou com o “Magalhães”, vão levar para casa uma maleta especial onde podem encontrar literatura extensiva sobre a matéria, devidamente ilustrada, além de um preservativo feminino, outro masculino, um “modelo peniano” próprio para a higiénica prática da masturbação, um adesivo indutor de hormonas “inspirativas”, uma embalagem de pílulas, um “dispositivo intra uterino”, um “anel vaginal” e um pacote de “óvulos espermicidas”. Tudo com as devidas instruções para uma utilização prática e segura.
As vossas criancinhas vão fartar-se de fornicar em segurança. Vão divertir-se como umas doidas. Vai ser uma maravilha.
O IRRITADO deixa a cada um o julgamento moral, sociológico e educacional desta profunda evolução, bem como a projecção das suas consequências a curto, médio e longo prazo.
Mas confessa que tem muita pena que a descoberta de si deixe de ser feita por cada um, aos poucos, de surpresa em surpresa, de gosto em gosto, de inquietação criadora em inquietação criadora, de falhanços e de vitórias, nessa coisa maravilhosa que é o nascimento da consciência e da maturidade, e passe a ser o mero pôr em prática de ensinamentos recebidos nas escolas, sem que os pais se possam pronunciar, como se se tratasse de aritmética ou de inglês.
9.6.10
António Borges de Carvalho