UNIÃO NACIONAL
À volta do senhor Pinto de Sousa ergueu-se uma verdadeira muralha de aço, coisa que o coronel Gonçalves nunca conseguiu, nem com cantigas de mau gosto gritadas pela turbamulta.
Nem o PS, nem o PC, nem o BE, nem o PSD, nem o CDS querem que o homem caia. Nem o Presidente da República.
O PS, tão farto do homem como os outros, porque não se quer arriscar a levar uma tunda.
O PC e o BE, porque, por um lado, não querem que a direita ganhe as eleições e, por outro, ficam contentíssimos com o apodrecimento da situação e com as hesitações da “burguesia”. Quanto pior melhor.
O PSD porque… não se percebe bem porquê. Tem medo? Acha preferível vegetar na porcaria em que estamos? Está à espera que o Passos aprenda inglês?
O CDS porque deve pensar que, quanto mais o PSD ajudar o senhor Pinto de Sousa, mais votos lhe caem no saco.
O PR porque, primeiro, tem como único verdadeiro objectivo “nacional” a sua própria reeleição, segundo, porque tem da “estabilidade” uma noção que não cabe na cabeça nem do mais bronco dos cidadãos.
É esta a união nacional em que vivemos.
Sem que ninguém dê ou queira dar por isso, ao contrário do que por cá se vai dizendo, não há um único dirigente europeu a quem o senhor Pinto de Sousa não desperte sentimentos de troça e de caridoso menosprezo. A triste galhofa é mais que muita por essa Europa fora. Lembram-se como a Merkel, o Sakozy e os demais se riam nas costas do homem enquanto ele debitava inanidades sobre o “Magalhães” em inglês técnico?
O nosso maior problema, o que, antes de mais, faz com que as agências de rating e instâncias do estilo nos desprezem, é termos o primeiro-ministro que temos e, ainda por cima, andarmos com ele ao colo, a começar no Presidente da República e a acabar no relator da comissão de inquérito. A união nacional dos nossos dias.
A nossa inteligentsia não percebe que, com Pinto de Sousa, não é, simplesmente, possível ir seja onde for quer não seja para o buraco, mesmo que os drs. Soares e Lopes se desunhem a dizer que não precisamos do FMI para nada. Quando apanharmos com ele no focinho, o que está cada vez mais perto, não se sabe o que dirão.
Por isso que a nossa primeira necessidade seja livrarmo-nos de quem nos mente, nos humilha, nos faz perder o que nos resta de credibilidade externa, de quem nos coloca como único país europeu capaz de suportar sem reagir um primeiro-ministro ignorante, patusco, cheio de rabos de palha, a quem a única coisa que interessa é aguentar-se no poleiro, mesmo que para tal não tenha a mais leve sombra de preparação ou idoneidade.
Enquanto isto não for percebido, com mais impostos ou menos impostos, com mais despesa ou menos despesa, com mais gente aos gritos ou menos gente aos gritos, não haverá qualquer resquício de esperança.
Mas vivemos em “união nacional”, digo eu. E em “estabilidade política”, dizem eles.
Que seca!
14.6.10
António Borges de Carvalho