NO FUNDO DO FOSSA
Esta história da comissão de inquérito ultrapassa tudo o que a inteligência humana pode conceber.
Pior, no caso do PS, ultrapassa os limites da desonestidade, da ausência de honra, da desfaçatez e da indecência.
O IRRITADO, a seu tempo, imaginou e disse que o resultado final iria ser vergonhoso. Mas não foi tão longe quanto os factos vieram a provar.
Comecemos pelo ilhéu e pelas suas ordens. Se é verdade que o presidente de uma comissão parlamentar deve manter uma certa imparcialidade nos seus juízos, não é aceitável que “ordene” que o principal elemento de prova dos factos seja não só ignorado como “proibido”.
As instâncias que das escutas se ocuparam e que sobre elas tinham jurisdição são unânimes em afirmar a legitimidade da sua utilização pela comissão. Mas o ilhéu acha que não.
Mais estranho é, sabendo que as decisões do presidente de uma comissão parlamentar são passíveis de ser infirmadas por maioria do seu plenário, que nenhum dos partidos nela representados tenha discutido ou posto à votação a posição do ilhéu.
O relator, membro do partido comunista que propôs a criação da comissão, nem perante a pesporrência e a trapalhona trapalhice das respostas escritas do “arguido”, coisa que, em si, tornava mais que evidentes as suas culpas, não conseguiu passar de afirmações “cautelosas” e “diplomáticas” evitando, que horror, a palavra mentira! Como se explica que o homem tenha, na prática, metido a viola no saco, quando qualquer pessoa que tenha seguido o processo com um mínimo de atenção percebe, e sabe, que as culpas políticas do senhor Pinto de Sousa são mais que evidentes e estão aí, escarrapachadas nos jornais e nunca cabalmente desmentidas? Mistério!
O PSD, nas suas coelhais cautelas, ou cobardias, anda a ver se “contém” a coisa e, à excepção do Pacheco Pereira, parece estar pronto a aceitar que a montanha tenha parido o rato que toda a gente vê, em vez do rinoceronte com que foi incubada.
O CDS e o PC, esses, não se percebe. Dão uma no cravo outra na ferradura e, quanto a escutas, nem vê-las nem lê-las nem ouvi-las. É caso para perguntar para que andaram a perder tempo na comissão.
No meio desta desgraça, o PS, mergulhado na mais funda das misérias morais, esperneia, para tal usando o menos credível e mais inaceitável dos seus membros. Por sinal, como no PSD, um ilhéu. Assim, o ladrão dos gravadores, um tipo com um passado mais que discutível, um fulano que, por incómodo, foi “exportado” para o Continente pelo Carlos César, é quem aparece a defender a “verdade” e a “revoltar-se” contra a mais que suave versão dos acontecimentos escrita pelo medroso relator.
Revoltante é que um indivíduo do calibre deste continue a ser deputado, vice-presidente da maior bancada parlamentar e objecto da “solidariedade” do Assis e demais camaradas. Será possível descer mais?
Rezam os jornais de hoje que o relatório tem todas as possibilidades de ser chumbado. Pelo PS, o que é óbvio, por excesso de conclusões. Pelo PSD, por defeito das mesmas. Pelo PC e pelo CDS, sabe-se lá porquê.
Tal como o IRRITADO tinha previsto, tudo ficará na mesma.
A posição do Pacheco, se vier a ser tomada, não passará de um fait divers, uma fuga à “realidade” produzida pelas frustrações de um deputado isolado e quem sabe se membro de alguma “força oculta” apostada em denegrir a imagem impoluta e virtuosa do senhor Pinto de Sousa.
Em matéria de finanças estamos prestes a bater no fundo.
Em matéria de dignidade já batemos.
16.6.10
António Borges de Carvalho