DA IGNORÂNCIA DO IRRITADO
Não falta para aí quem atribua às chamadas agências de rating os mais terríveis nomes. Canalhas, servos dos especuladores, sedentos do sangue das nações, gangsters que, ao serviço do imperialismo, abusam dos pobres países que se deixaram endividar sem ter meios para pagar nem economias que sustentem o serviço da dívida, isto quando não aldrabaram as contas como os gregos. Não há adjectivos que cheguem às boas almas para acusar tais agências dos mais hediondos crimes.
O IRRITADO, que não percebe nada de agências, nem de ratings, nem de finanças, vai observando a coisa à distância.
Um pequeno comentário:
Quando começou a débacle, exactamente os mesmos que agora tão ferozmente atacam as agências, por severas, acusaram-nas de ter fechado os olhos a tudo e mais alguma coisa e de terem deixado à solta vastas áreas da vida financeira que, manifestamente, não tinham pés para andar.
Ou seja, as agências são más porque alertam os mercados, são péssimas porque não o fazem. Entenda quem quiser o raciocínio das boas almas.
Uma observação, se calhar simplista:
Nos EUA, sede do tenebroso capitalismo e do ominoso imperialismo, aconteceu que houve monstros financeiros, uns privados, como o Lehman Brothers, outros mais ou menos públicos, como a Fredy Mack (é assim que se diz?), que se desmoronaram sem apelo nem agravo. O “mercado” funcionou, isto é, “auto-regulou-se”. O senhor Madoff foi para a cadeia, isto é, funcionou o “mercado” e funcionou a lei.
Por cá, é tudo ao contrário. Que diabo, isto é um “Estado Social”! Um Estado que, constitucional e politicamente, odeia o “neo-liberalismo”, duvida dos “mercados” e está “preocupado com as pessoas”. Por isso, usou os seus admiráveis mecanismos para financiar os falidos e para não julgar seja quem for, se é que há, ou haverá, culpados de outra coisa que não seja perder dinheiro, o que, como tal, nunca foi crime. “Preocupado com as pessoas” o Estado socialista não disponibilizou um chavo para, nos termos e limites da lei, pagar indemnizações aos depositantes dos bancos falidos. “Social” como é, pôs à disposição dos falidos incríveis verbas saídas do banco público para manter em funcionamento o pior do tal tenebroso capitalismo, ou do “neo-liberalismo”, coisa tão profundamente odiada pelos “sociais”, como o Dr. Mário Soares.
Os resultados do funcionamento do mercado e da Justiça, por um lado, e da intervenção socialista, por outro, estão aí, para quem quiser ver. Os execráveis EUA, apesar do já evidente flop político do senhor Obama, vão tirando a cabecinha de fora. Por cá, no socrélfio paraíso… ora, por cá é o que toda a gente sabe.
Nesta ordem de ideias, fica o IRRITADO sem saber se as agências de rating são entidades merecedoras de estima por terem resolvido pôr os países diante das infelizes realidades que os governos escondem, se são as tais criminosas entidades de que tanto se fala, se nem uma coisa nem outra, nem antes pelo contrário.
20.6.10
António Borges de Carvalho