O BLÁBLÁ
O camarada Alegre habituou-nos, desde há longos anos, ao fogo-fátuo das suas tonitruantes declarações.
Bláblá para a esquerda, bláblá para a Pátria, bláblá para o povo, zero de conteúdo, bláblá e pronto, está tudo dito.
Ficava-lhe bem a alcunha de Bláblá. O IRRITADO desde já a propõe.
Agora que é, ou vai ser, candidato presidencial, o bláblá do Bláblá intensificou-se.
Como ser PR é uma coisa que, a começar pelos candidatos, ninguém sabe para que serve, nem que poderes tem, nem o que é suposto fazer ou dizer, sejamos justos, bem merece o bláblá do Bláblá.
Uma eleição que confunde as pessoas com “mensagens” miríficas, ribombantes declarações de princípios e de “promessas” que jamais poderão ser cumpridas, é uma estúpida forma de enganar as pessoas, de as fazer ir votar exclusivamente por simpatia pessoal, ou para evitar o pior - julgam elas - , ou por ter “sentimentos” de esquerda ou de centro ou de direita, ou a benefício de inventário, na certeza que, para além de escolher um estilo, tal voto para pouco serve. Ressalve-se o caso do Dr. Sampaio e do seu golpe de Estado.
Quando surgirá o menino a dizer que o imperador vai nu, isto é, que o PR jamais devia ser eleito por sufrágio universal e que devia representar (atenção, só representar) a República (atenção, só a República) a partir de uma eleição parlamentar, ou colegial?
Ao menos não se gerava esta abominável confusão a que há quem chame coabitação quando o Presidente vem de um lado e o governo do outro, nem a horrível concentração de poder quando vêm os dois do mesmo.
Acabava-se com a dupla legitimidade popular, coisa que não é preciso ser muito inteligente para perceber que não pode funcionar e é de duvidosa legitimidade.
Bom, deixemo-nos de teorias, porque esta é sobre o camarada Bláblá.
Veio o nosso poeta à televisão dizer de sua justiça. Foi magnífico. Primeiro, entreteve-nos com especiosíssimos pensamentos sobre a profunda diferença entre “cooperação estratégica” e “cooperação institucional”. Como ninguém terá percebido, desatou a dizer que o presidente não pode meter-se com o governo, como faz o actual, mas tem a obrigação de se meter com o governo quando for caso disso, isto é, quando o Bláblá for presidente. Depois, lá vai ele de longada a atacar o Doutor Cavaco a torto e a direito, ou esquerdo, certamente porque lhe estava a faltar o bláblá.
Enfim, o nosso Bláblá blablou em conformidade com o que se espera dele.
Não é possível acabar estas singelas palavras sem um referência elogiosa ao que foi o clou da entrevista, o verdadeiro coroar do raciocínio político do nosso tão sonoro Bláblá.
Disse ele que há uns canalhas, uns tipos de inspiração neo-liberal, que desataram a emprestar dinheiro a quem lho pedia. Agora, calcule-se, os mesmos canalhas andam para aí a querer que lhes paguem o que devem! Notável. Então não querem lá ver que os fulanos, lá porque emprestaram a massa, a querem de volta? Era o que faltava! Gangsters!
Já o Amin Dádá já dizia o mesmo, porque não há-de o fazer o Bláblá?
25.6.10
António Borges de Carvalho