EXPRESSA CONFUSÃO
Com altas parangonas, o “Expresso” exprimiu a sua opção (ou será oção?) de adoptar (ou será adotar?) o acordo ortográfico.
Tudo bem, cada um come do que gosta, competindo aos leitores, no caso vertente, reagir como tiverem por bem.
Interessante é o editorial com que o semanário “justifica” ou “desculpa” a sua opção.
Começa por, modestamente, afirmar que há quem diga que o “Expresso” é “uma instituição”. A seguir, recusa tal qualificação. Não é uma instituição. Logo a seguir, afirma que “esta instituição”… doravante “adota” o acordo ortográfico. Perceberam? Eu também não. Dir-se-á, com foros de verdade, que não interessa a ninguém saber se o “Expresso” é ou deixa de ser uma instituição. Que se lixe.
Mas, opina o “Expresso”, “A nova ortografia entra nestas páginas à parte.” Perceberam? Eu também não. Dir-se-á, com foros de má-língua, que o autor do editorial se deitou tarde na véspera de escrever.
Explicando melhor, a instituição informa que não sabe se “o acordo é bom” e que não o “adota” por “não ter outro remédio”. Perceberam? Eu também não. Então “adota-se” uma coisa que se admite ser má, sem se ser obrigado a tal?
Ajunta então que se trata da “defesa da língua portuguesa”. Ou seja, a língua portuguesa é defendida pelo “Expresso” com uma arma que não se sabe se é boa. Notável.
O editorialista vai mais longe ainda na sua panóplia de argumentos, certamente tirados a ferros depois de uma noite de farra.
É que a língua portuguesa “nos liga a cinco continentes”! E esta? O inglês também. Há mais de vinte versões do inglês e não há um só cidadão britânico que se preocupe com isso. Pelo contrário, acham óptimo que assim seja. Além disso é abusivo falar em cinco continentes. Que eu saiba, a maioria dos PALOPS está-se nas tintas para o acordo ortográfico.
Mas o “Expresso” é um jornal “com um grande futuro”. Como tal, acha que é preciso escrever como no futuro, não como escrevia o Camilo ou o Eça antes da reforma de 1911. Esquece-se o “Expresso” que a reforma de 1911 foi feita por portugueses para portugueses segundo uma lógica portuguesa, não como absurda cedência aos brasileiros.
Mas o “Expresso” “pensa para a frente”.
Diz o farrista que “O passado é lugar que abandonámos”.
É pena. Quem se borrifa no passado dá cabo do futuro.
27.6.10
António Borges de Carvalho