LÁ E CÁ
Há mais de vinte anos, apareceu em São Tomé, triunfal, , o Professor Marcelo, emérito intriguista da praça de Lisboa.
Perguntar-se-á porquê. Expliquemos.
O à altura Presidente da República local, senhor Pinto da Costa (nada a ver com o do fêcêpê), tinha resolvido mandar o marxismo-leninismo às urtigas e “ocidentalizar-se”.
Começou por transformar o seu partido, o MLSTP, em PSD, ficando a nova sigla a seguir à histórica: MLSTP-PSD.
Depois, percebeu que precisava de uma nova constituição. Pensou, pensou, e concluiu que nada melhor que chamar o famoso professor para tal efeito.
Ora o professor sabia a potes de constituições, mas não percebia nada de áfricas. Na linha do guru constitucional do seu tempo, o famoso Maurice Duverger, Marcelo gerou uma constituição semi-presidencialista, como não podia deixar de ser.
A partir daí, como era fácil de prever, nunca mais houve descanso político nas verdes ilhas do golfo da Guiné. O “Mais Velho” perdeu poder e o que perdeu foi entregue a um saco de gatos, partidos feitos à pressa, com líderes por demais ambiciosos ou por demais incompetentes, ou as duas coisas.
Naquelas terras, como na generalidade dos países da região, tem que haver um “mais velho”, de autoridade indiscutível, mesmo que eleito e com mandatos limitados. Se não, não funciona.
O Presidente vai fazendo pela vida, mas não é carne nem peixe nem antes pelo contrário. Como por cá, quase sem tirar nem pôr.
Apesar de tudo, parece que São Tomé ainda tem lições para dar à antiga metrópole. Lá como cá, as recentes eleições não deram maioria absoluta a ninguém. Mas lá, ao contrário de cá, o partido mais votado anda à procura de parceiro para formar governo. Lá, ao contrário de cá, parece que a “estabilidade” governativa não é a patacoada de que falam o nosso Presidente e o nosso primeiro-ministro. Lá, ao contrário de cá, o Presidente e o chefe do partido mais votado procuram uma solução com pés para andar. Não quer dizer que ande.
Mas, pelo menos neste aspecto, os pobres dos santomenses dão-nos lições de “governança”.
15.8.10
António Borges de Carvalho