DOUTORES DA TRETA
Um tal Fernandes, figura de proa da organização de vendas por correspondência que se chama DECO, veio à estampa queixar-se dos bancos.
Estou com ele. Razões de queixa dos bancos não me faltam.
O problema é que a principal fonte de desagrado do homem é o facto de os bancos, passo a citar, encontrarem formas convenientes de interpretar a lei. Não se trata propriamente de a contornar mas de ajustar o conteúdo da legislação aos seus próprios interesses, minimizando os danos que a mesma lhes poderia causar.
Ocorre perguntar ao Fernandes que mal há nisso. Será que ele, quando declara os impostos, usa a maneira mais gravosa para si próprio de o fazer? Será que é moralmente condenável ou ilegal que, seja quem for, procure encontrar, sem fugir à lei, a resultados fiscais que lhe sejam o mais favoráveis possível?
Repare-se que o homem não acusa os bancos de não cumprir a lei, mas sim de, respeitando-a, o fazer da forma que lhes seja mais conveniente. Se a lei tem alçapões ou equivalente, então é a lei que está errada, não quem os utiliza.
O IRRITADO deseja ardentemente que o senhor Fernandes, em vez de criticar quem actua nos termos da lei, se dedique a criticar a própria lei e a contribuir para que seja mais clara.
Se o não fizer, vá pentear macacos. De bocas estamos fartos.
21.8.10
António Borges de Carvalho