PUTINE CAIPIRA
O camarada Luís Inácio da Silva, dito Lula, figura de proa dos países emergentes - entendendo-se por emergentes os que, além de emergir, causam emergências noutros sítios – anda numa fona.
Comecemos por lhe tirar o chapéu. Contra todas as expectativas, Lula foi um grande Presidente, sobretudo porque foi capaz de dar cobertura de esquerda às políticas do seu antecessor. Como as políticas de Fernando Henrique Cardoso eram boas, deram óptimos resultados. Lula capitalizou.
Em fim de festa, Lula ultrapassou todos os limiares de Peter ao convencer-se que tinha passado a ser um actor da cena internacional. Não se limitando ao que a emergência própria poderia potenciar, trilhou caminhos perigosos, fez amizade com o Amadinejá e o Chávez, contribuiu para a desestabilização da Turquia, diabolizou os EUA, etc.
É pena que o sucesso lhe tenha subido à cabeça de forma tão canhestra.
Agora que está, ou devia estar, em vias de ir para casa, resolveu transformar-se numa espécie de Putine da América do Sul. Arranjou uma candidata a sucessora que vai ser eleita, e prepara-se para ficar atrás dela a controlar as coisas, como o Putine faz com o Medvedev. Cada um tem o palhaço que merece. Espera-se que a dona Selma seja tão mansa como o Medvedev, sem ser bêbeda.
Lula desdobra-se em diligências para apoiar a sua candidata, diz que vai andar pelo país à cata de oportunidades e que vai obrigar a mulher a continuar o trabalho dele e a fazer o que ele não conseguiu, seja lá isso o que for.
Ou seja, o Lula quer continuar no poder sem continuar no poder. Nos brasis não há, como na Rússia, primeiro-ministro, Lula prepara-se para, informalmente, continuar a mandar. Não se sabe é se a dona Telma, depois de se sentar no trono imperial, estará pelos ajustes. Só o futuro o dirá.
Os ex-presidentes, nos países civilizados, costumam dedicar-se a fazer conferências, ou a tratar de bibliotecas, ou de fundações (olhem o Dr. Mário Soares, olhem, noutro nível, o Clinton), ou arranjam um tacho internacional (olhem o Sampaio).
Lula, reconheça-se, dificilmente pode ser imaginado a fazer conferências ou a tratar de bibliotecas, ou a desempenhar cargos na ONU. Talvez por isso, não se reforma. Continua, através da dona Gelma, a dominar as artes.
Se o tiro lhe sair pela culatra, o problema é dele.
21.8.10
António Borges de Carvalho