Ó CRESPO, ESTÁS BALHELHAS?
Ao inesgotável baú de velharias que tem de reserva, foi o PC buscar o Lopes, um rapaz que, aos 17 anos, foi pescado na escola industrial e imediatamente integrado na gruta sombria da burocracia partidária.
O rapaz diz-se electricista mas nunca apertou um parafuso.
Viu com gosto ser-lhe lavado o cérebro e nele implantada a pen drive (actualização permitida pelo PC quando as cassetes caíram em desuso), coisa que papagueia, fatinho novo, agora na casa dos cinquenta, com primor escolástico e convicção de PVC (outra novidade).
Tal personalidade, formatada de forma já tão velha, não mereceria ao IRRITADO qualquer referência, não fora, desgraçadamente, tê-lo visto e ouvido duas noites seguidas a debitar as gravações da pen.
Na TVI, qual gramofone, o homem desdobrou a cartilha meio atrapalhado, mas com alto poder repetitivo, a mostrar que tinha decorado as necessárias fórmulas para responder a alhos com bugalhos, já que o importante, segundo as ordens do partido e as profundas convicções do patego, é debitar o que está gravado e não se deixar apanhar em armadilhas burguesas.
Lapidarmente, quando lhe perguntaram se achava, como o Bernardino, que a Coreia do Norte é uma democracia, o palhaço respondeu mais ou menos assim:
- O caminho, portanto, do socialismo, portanto, tem vias, portanto, que, portanto, objectivam, portanto, a libertação do homem, portanto, a caminho, portanto, de uma sociedade, portanto, mais justa. Portanto…
- Pois, mas diga lá se a Coreia do Norte é, ou não, uma democracia.
- Portanto, a libertação dos povos, portanto, assume, portanto, segundo as condições objectivas, portanto, do estádio, portanto, de cada sociedade, portanto, as fórmulas mais adequadas, portanto, ao devir científico, portanto, da história.
A fulana que o entrevistava, vistos estes esclarecimentos, resolveu não insistir. O povo já tinha percebido que o inigualável regime do camarada Kim Jong Il é o ideal para o nosso PC. Não é novidade, mas é bom de ouvir e muito devia esclarecer o pessoal.
No dia seguinte, foi o inefável Crespo quem o entrevistou, na SIC Notícias.
Como o IRRITADO já estava de sobreaviso, pôs-se a contar os “portantos”. Contou 74. Devem-lhe ter escapado vários, dada a velocidade com que o patego debitava a pen. Teremos assim que, em 20 minutos, o dito disse “portanto” cerca de 4 vezes por minuto, de 15 em 15 segundos em média, o que deveria, se houvesse justiça neste mundo, figurar no “Guiness”, como “record” da estupidez discursiva.
Ah! Já me esquecia! Os autores lidos pelo patego são Álvaro Cunhal e José Saramago, o que completa o retrato do candidato do PC às presidenciais.
No fim da entrevista, o Crespo desejou ao aparatchick "as maiores felicidades".
Ó Crespo, estás balhelhas?
28.8.10
António Borges de Carvalho