DO AQUECIMENTO GLOBAL
Os meus ouvidos iam estourando de terror. Então não é que o senhor Relvas (grande dirigente e educador das massas do PSD), perante os olhares embevecidos do senhor Carvalho (grande dirigente e educador das massas do PC) e da senhora não sei quantas (aquela que tem enormes dificuldades para pronunciar a palavra Borges), declarou aos sete ventos que, dentro de dez anos, as águas do mar estarão seis metros acima do seu actual nível?
Vinha o dislate a propósito de um estudo terrorista ontem publicitado nos jornais. É evidente que, por muito terrorista que o dito estudo seja, em parte alguma afirma, ou justifica, as sábias palavras do senhor Relvas. O senhor Relvas tresleu a notícia, e resolveu exagerar, achando que lhe ficava a matar. E ficava. O senhor Carvalho e a senhora não sei quantas acharam muito bem. Quem são eles para desdizer uma afirmação que, tão competentemente, contribui para o pavor das pessoas?
O estudo é muito interessante. Sobretudo porque, depois de vastas considerações sobre as alterações climáticas, declara, num assomo de bom senso, que “nenhum cientista arrisca a 100% dizer que o clima está a mudar”.
Pois é. Tanto pode estar como não estar. Entretanto, vai-se dizendo coisas e ganhando algum.
A Terra já aqueceu e já arrefeceu uma data de vezes nos últimos trinta milhões de anos. Já houve não sei quantas glaciações e desglaciações. Tudo isto se passou sem que houvesse CO2, CFC’s, buraco de ozono, muito menos bodes expiatóros de eleição como os Estados Unidos da América, a indústria europeia, as centrais porcalhonas da Rússia, o Fiat 500 do Zé…
Os registos de temperaturas exitentes e fiáveis terão pouco mais de um século, o que, na vida da Terra, nem um nanosegundo será. Nestes termos, terão as afirmações dos terroristas “científicos” alguma sombra de fiabilidade? Deixo a pergunta.
Nos EUA – horroroso poluidor, o maior – não há buraco no ozono. No deserto do Saará, há. Ainda não se lembraram de culpar os peidos dos camelos, mas lá chegarão.
O problema, minhas senhoras e meus senhores, é que as terríficas ideias e previsões dos Relvas e apaniguados fazem correr triliões de dólares pelo mundo inteiro, fazem o senhor Gore ganhar milhões a vender documentários, enchem os bolsos e/ou os egos a centenas de milhar de fulanos que militam em organizações ditas ecologistas.
Ao mesmo tempo, no mundo, há milhões de seres humanos sem condições ecológicas para viver.
Ao mesmo tempo, por cá, ninguém liga aos problemas reais que afectam as pessoas, as celuloses sem filtros que nos dão cabo das ventas, as pocilgas e os curtumes enchem os rios de merda, a vizinha do lado que põe o lixo no patamar, os pombinhos dos jardins que propagam infecções, as sargetas entupidas onde só passam ratazanas…
Preciso é ir chateando, ameaçando, infundindo nos espíritos as mais rebuscadas inquietações, os mais repenicados medos. Dá imenso dinheiro, é politicamente correcto, e fica bem aos novos salvadores da Humanidade.
António Borges de Carvalho