A MENTALISTA
Dona Helena Roseta, subitamente alcandorada à posição de presidente da Câmara de Lisboa - o Costa e o Salgado foram passear para a China! - resolveu embargar uma obra de modernização de um estabelecimento com a desculpa de que o edifício em que se encontra é capaz de vir a ser classificado “de interesse municipal”.
Estamos assim perante um não regulamento, uma não ordem, uma não classificação, perante efeitos sem causa. Ou abre-se-nos, deslumbrante, a visão inédita da aplicação retroactiva, não de normas, mas dos pensamentos da senhora vereadora/presidente em exercício, que, qual médium, aplica no presente as normas que pensa poderem vir a estar em vigor no futuro.
Ficamos a saber que não têm as pernas cortadas só aqueles proprietários que tiveram a desgraça de ver os seus bens classificados, sabe Deus com que critérios, pela distinta e veneranda CML. Em igualdade na desgraça estão aqueles que a dona Roseta acha, na sua privilegiada cabecinha, que podem, um dia que lhe dê na gana, vir a ser objecto dos ditames da zelosa câmara.
Vasco Gonçalves e Otelo não fariam melhor.
Já agora, o IRRITADO recomenda aos leitores que, se tiverem pachorra, se debrucem sobre o PDM da cidade e façam uma visita a meia dúzia de edifícios que foram objecto do “interesse municipal”. Verão onde podem levar os “critérios” de furiosos burocratas à solta.
Recomenda também que se dirijam à poderosa CML e perguntem o que quer dizer, em termos reais, a classificação de “interesse municipal”. Aposto que ninguém o saberá dizer. Ninguém, ainda menos a câmara, sabe ao certo quais as consequências práticas de tal classificação.
No entanto, quem quiser “mexer” num dos tais e tão interessantes imóveis, terá uma alcateia de “técnicos” à perna, e chegará à conclusão que o melhor é ficar quietinho, porque, se mexe muito, ainda lhe vão ao bolso, em vez de o compensarem pelas limitações que lhe impõem, por absurdas e idiotas que sejam.
Em alternativa, façam as obras à sorrelfa, que é, comprovadamente, a melhor maneira de fazer obras em Portugal. Os tipos do Corte Inglês que o digam.
16.9.10
António Borges de Carvalho