CUBA E NÓS
O camarada Castro, cinquenta anos passados sobre a revolução de que foi autor e que, dizendo libertá-los, escravizou os cubanos, descobriu que, afinal, estava tudo errado. O sistema económico falhou, a escravidão reduziu o povo à fome e ao atraso, numa palavra, o socialismo teve, em Cuba, o mesmo resultado que se verificou em todos os países que a ele foram submetidos.
Esta serôdia auto-crítica, se feita com sinceridade, deveria levar o camarada Castro pelo menos à auto-flagelação ou, mais logicamente, ao suicídio. Em alternativa, cinquenta anos a impor um sistema e chegar à conclusão que o sistema imposto é, como a humanidade quase inteira já percebeu há que tempos, uma inenarrável e criminosa trampa económica, social e política, deve, ou devia, ser motivo suficiente para ser condenado a prisão perpétua no Tribunal de Haia, se houvesse justiça internacional, ou se o juiz Garzon fosse isento.
Quantos morreram por causa do regime castrista, quantos passaram, sem culpa nem julgamento, boa parte da sua vida nas prisões comunistas do Castro, quantos foram torturados, estropiados, maltratados à ordem do canalha? Como explicar que, como por toda a parte onde esta gente imperou ou impera, milhares de milhões de pessoas tenham sido assassinadas, reduzidas à miséria, à falta dos mais elementares benefícios da civilização, à carência alimentar, à vergonha de assistir impotentes aos privilégios das gentes do partido, à vilania de ver as suas filhas vendidas aos estrangeiros nas praias e nos hotéis, à desonra de andar a vender-se por uns dólares – a moeda do “inimigo” – para obter as coisas mais insignificantes e comezinhas?
A explicação é só uma: o socialismo, cujo resultado nunca foi outro.
A política tem, às vezes, um carácter quase bíblico. Castro é louvado, qual filho pródigo, pela malta da política. Em vez de condenado, é elogiado. Mais vale tarde que nunca. É como se o Hitler e o Estaline ressuscitassem e dissessem que, afinal, se tinham enganado: perdoar-se-lhes-ia os crimes? Pois com Fidel, parece que sim.
O mano Raul já andava há tempos a dar grandes benesses ao povo. Tinha, até, autorizado as massas a comprar torradeiras e micro-ondas. Agora, animado pelas palavras do chefe, tratou de pôr na rua 500.000 funcionários públicos. Que se desenrasquem. Que abram tascas e lojas de telemóveis, bordéis e sex-shops, o que lhes apetecer desde que deixem de andar pendurados no Estado!
Bons exemplos para nós. Quando, a breve prazo, deixarmos de ter dinheiro para torradeiras e micro-ondas, a solução será parecida. 500.000 funcionários para a rua talvez seja demais. Uns 450.000… quem sabe?
Entretanto, imagine-se, há quem diga que o camarada Kim Jong Il, já abriu umas frestas.
A ser verdade, dentro de pouco tempo só em Portugal haverá lugar a Jerónimos e a Louças, ou a partidos socialistas ultra-reaccionários como o nosso, que proclama não mexer em nada que nos possa safar da miserável enrascada em que nos meteu com o seu socialismo de pacotilha, feito de promessas falsas (como as do Castro) de ruína financeira (como a do Castro) de estagnação económica (como a do Castro), ainda que, reconheçamos, com uma tal dose de demagogia e de capacidade para a mentira, que consegue almejar os mesmos resultados do Castro sem precisar de acabar com a democracia, antes transformando-a na mais profunda aldrabofonocracia de que há memória e fundando-a na ignorância de um povo ingénuo, crédulo e desinformado.
17.9.10
António Borges de Carvalho