ESTÚPIDA ESPERANÇA
Quando Passos Coelho se candidatou a líder do PSD já era conhecido o plano inclinado onde Portugal escorregava em movimento cada dia mais acelerado. Passos Coelho já sabia que nada do que o PM dizia era verdade. Já sabia que o PM e a sua corte de desinformadores e aldrabões não mereciam a mais leve sombra de crédito. Já conhecia a brutal desonestidade da central de notícias do governo. Estava a par da dívida que o socialismo criou e que jamais parou de aumentar. Tinha plena consciência de que, tanto por uma questão de dignidade como pela sua ruína iminente, o mais grave problema de Portugal, a maior força de bloqueio, o cancro da Nação, era o primeiro-ministro, o seu apalhaçado governo e um partido socialista que perdera toda a noção de serviço e toda a honestidade política e intelectual.
Sabendo tudo isto e muito mais, Passos Coelho deveria ter posto no seu programa eleitoral interno a promessa de derrubar o governo com uma moção de censura mal fosse eleito.
Sabendo tudo isto e muito mais, Passos Coelho deveria preocupar-se com uma rápida mudança de rumo.
O que fez? Achou que o governo devia descalçar a bota, e que ele, Passos Coelho, só lhe saltaria em cima com ela já descalçada. Apresentou cumprimentos ao rival, ajudou-o a continuar a enganar os portugueses, fechou os olhos à crise que o PS todos os dias agrava, aprovou um orçamento impossível, deixou passar o PEC 1, e o PEC 2, e vai deixar passar de novo um orçamento sem futuro.
Aquilo que o IRRITADO a seu tempo disse – que Passos Coelho ou agia depressa ou se desgastava – acabou por acontecer com a maior brutalidade. Menos 10% para ele nas sondagens, mais 10% atascados na lixeira socialista.
E agora? Passos Coelho a cair, o PR a apoiar o PS com todas as suas forças, ou com toda a sua ambição eleitoral, sem respeito por nada, nem por si mesmo, os partidos comunistas a prometer as habituais omeletas sem ovos, o CDS aos berros que é democrata-cristão, as “forças intelectuais” a bramir contra o “neo-liberalismo” como se houvesse algum liberalismo, “neo ou não “neo”, em Portugal, como se Portugal não fosse a piscina estatista, esquerdista e socialista em que todos nos vamos afogar, como se o “estado social”, agora na berra, não fosse, como diz a Cavilhas, um sonho insustentável e falido, como se alguém, na Europa ou no mundo, não tivesse há muito chegado à conclusão que somos governados por palhaços, como se, como se.
A não ser que Passos Coelho tenha um ataque de bom senso e nos ponha a viver em duodécimos na esperança que o PR venha a dissolver a AR quando puder e que as pessoas percebem que Pinto de Sousa nunca mais.
Esperança estúpida? Talvez. Mas é a alternativa que resta à inevitável queda no abismo que, braços abertos, nos espera.
18.9.10
António Borges de Carvalho