ONDE ESTÁ A DIREITA?
Os partidos comunistas passam a vida a clamar contra as chamadas “políticas de direita”. Fazem o que, no seu caso, tem alguma lógica, embora careça de fundamento. Para eles, o mundo divide-se entre maus e bons, sendo os bons de esquerda e os maus de direita. O PS, sendo de esquerda, se se “porta mal”, passa a ser de direita.
Trata-se de uma espécie de fundamentalismo sem a oportunidade de se tornar terrorista, pelo menos terrorista propriamente dito. Tudo o que é mau, ou corre mal, é de direita. Tudo o que acham que corre bem é de esquerda, mesmo quando corre mal.
Acontece que, em Portugal, não há políticas de direita. Nem as que o CDS defende o são. Portugal ainda não saiu da piscina de esquerda em que se afoga há trinta e tal anos. O chamado complexo de esquerda é o que mais manda entre nós.
O Estado é o que foi herdado do Estado Novo (anti-liberal e omnipotente), terreno de cultura ideal para a esquerda, que brutalmente o engordou - os anos Pinto de Sousa, a este respeito, são de um exagero que ultrapassa a imaginação - e é hoje obeso, omnipresente, balofo. E falido, como não podia deixar de ser.
O Estado aumenta todos os dias a despesa. Todos os dias aumenta os impostos.
O Estado acredita nas virtudes salvíficas do investimento público, mesmo que o investimento público se faça em áreas absurdas, improdutivas, inviáveis e ruinosas.
O Estado ataca os ricos, entendidos como ricos os membros de uma anémica classe média.
O Estado vai buscar aos privados os “grandes dinheiros”, engordando privados com investimento público sem, sequer, se preocupar em saber como e quando vai pagar os “grandes dinheiros”.
O Estado, campeão mundial das chamadas energias renováveis, enche a paisagem de moinhos de vento pagos a peso de ouro com subsídios e parcerias, sem perceber que as tais energias são renováveis, mas o que custam não é.
O Estado entra em todas as demagogias da moda, tipo “aquecimento global”, “luta contra o CO2” (um gás que não polui), coisas que, sem utilidade de nenhuma ordem, custam milhões de milhões à humanidade e a nós também.
O Estado, ao contrário do que se passa em todos os países com problemas financeiros, insiste num modelo social inviável e caduco.
Tudo isto - o Estado obeso, o Estado omnipresente, o Estado gastador, o Estado falsamente protector, isto é, criador de sistemas de protecção inviáveis, o Estado estúpido e fanfarrão - é de esquerda. Poderia, outrossim, ser de extrema-direita, como já foi, ainda que nada comparável aos nossos tempos.
Onde está a direita? Onde está seja o que for para além do comunismo, do socialismo, da social-democracia, da democracia cristã, tudo ideologias anti-liberais e auto proclamadas “solidárias”, tudo ideologias que implicam a desresponsabilização individual e a noção da utilidade do trabalho, fazendo do homem um sugador de benefícios e um utilizador de direitos, não um cidadão que use direitos tendo a noção clara das suas responsabilidades e dos seus deveres.
O socialismo nórdico é mais liberal que o odiado “neoliberalismo”, por cá tão ferozmente anatemizado.
No auge do poder do partido socialista sueco, a economia estatal resumia-se a cinco por cento do total. O Estado cobrava impostos e servia a sociedade em conformidade. Os sindicatos colaboravam com o patronato, nunca pondo em causa a sua essência de indispensabilidade. Ainda hoje assim é.
Nunca houve progresso social, nem liberdade, sem liberalismo económico, isto é, sem um capitalismo saudável. Os males do capitalismo curam-se com os remédios do capitalismo, não com injecções socialistas de capital em empresas falidas ou bandidas.
Onde está a direita em Portugal? Não a direita do nacionalismo fascista - hoje também comunista - mas a direita dos direitos propriamente ditos, os que geram e viabilizam os chamados direitos sociais. Ou seja, a direita da Liberdade, da responsabilidade e, para usar um chavão moderno, do “desenvolvimento sustentável”.
21.9.10
António Borges de Carvalho