INFORMAÇÃO PROLETÁRIA
Duas pequenas observações sobre a manifestação da CGTP levada à rua no Sábado, com os cabecilhas do costume e os políticos de serviço à nobre causa da luta de classes ou coisa parecida, seguidos de numerosa cavalgada.
1. Os jornais, em gigantescas parangonas, anunciavam que, do Marquês aos Restauradores, tinham desfilado 100.000 pessoas.
Num desses jornais, um discreto cantinho, certamente sonegado ao controleiro de serviço, rezava que o professor Não-Sei-Quantos, da Universidade de Princeton, ou equivalente, especialista em contagem de multidões, se deslocara aos locais do desfile com um grupo de alunos. Feitas as contas pelo dito senhor e seus discípulos, a conclusão foi a seguinte: na gigantesca manifestação tinham participado cerca de 10.000 pessoas.
A Polícia, certamente para não acicatar a justa fúria dos cabecilhas e da organização, recusou adiantar qualquer estimativa.
Aqui temos um notável exemplo da “honestidade” com que o assunto foi tratado, quer pelos protestadores quer pela chamada “comunicação social”, ou desinformação social, como preferirem.
2. A segunda observação diz respeito aos argumentos do caudilho das massas Carvalho da Silva, o qual, sendo certo que habitualmente evita usar termos conotados com a cartilha bolchevista, desta vez deixou escapar um sinal dos “princípios” que, lá bem no fundo, o animam. Disse ele que esta manifestação era “contra uma certa burguesia”.
Gato escondido com o rabo de fora.
Para a próxima escorregadela, se o Comité Central, entretanto, lhe não puxar as orelhas, o grande educador dirá “burguesia” em vez de “uma certa burguesia”. E, se os ventos correrem de feição, passará a falar na “ditadura do proletariado”, na “justa revolta das massas” e na “gloriosa revolução socialista”. Não se sabe, neste momento, onde é que ele irá buscar o proletariado. Mas, a continuar o consulado do senhor Pinto de Sousa, já estivemos mais longe de o ressuscitar. Nessa altura, a conversa dos “amanhãs que cantam” voltará à baila.
9.11.10
António Borges de Carvalho