BATER NO FUNDO I
Com tantas histórias que a Justiça portuguesa oferece à malta, não há quem não pense que, como nas finanças, na economia e noutras matérias, também na Justiça estamos prestes a bater no fundo.
Há casos em que batemos mesmo.
Calcule-se que há um juiz, de seu nome Afonso Dinis Nunes, que decidiu, reagindo à quebra do salário e ao aumento dos impostos, trabalhar menos! Sim, meus senhores, trabalhar menos duas horas por dia, menos dez horas por semana, menos quarenta e quatro horas por mês, menos quatrocentas e sessenta horas ou cinquenta e sete dias ou dois meses por ano.
Toda a gente, pelo menos o comum dos mortais, é aconselhado a mudar de vida, a gastar menos, a não se endividar, a produzir mais e melhor, a contribuir com o seu sacrifício para sarar as feridas que o socrato-aldrabismo abriu.
Mas um juiz não é toda a gente, ainda menos faz parte do comum dos mortais. É um senhor que tem o direito de estar acima e para além dos outros, de se vingar individualmente, de fazer “justiça” pelas próprias mãos, de “julgar” em causa própria!
Em ausência de dignidade pessoal e institucional, não se pode ir mais fundo.
Mas há quem o faça.
O senhor Nunes fez uma longa peça escrita – um despacho! – a comunicar ao orbe a sua atitude e a respectiva “justificação”.
Perante isto, o juiz José Manuel Duro, que de duro deve ter nada, membro do CSM, declarou que o ‘caso está a ser averiguado, para aferir se será, ou não, de “tomar alguma medida”’. Será ou não. Ou não?
Há que perguntar:
Quem bateu no fundo? O Nunes ou o Duro? Ou os dois?
Quem bateu mais no fundo?
Que é, para esta gente, o fundo?
Haverá fundo?
Ou o abismo não tem fundo?
14.11.10
António Borges de Carvalho