FLOP!
Acordei cedo. Lá fora, os carros não eram mais do que de costume. Havia autocarros na avenida a despejar e a engolir passageiros.
As pessoas que trabalham no meu prédio apresentaram-se ao serviço a tempo e horas.
Pequeno-almoço no bucho, fui beber uma bica à pastelaria da esquina. Depois, fui comprar o jornal ao centro comercial cá do bairro. Tudo aberto, tudo a funcionar. Um dia como os outros.
Fui então pagar um buraco que tinha nas finanças. Pouca gente, a malta julgava que havia greve. Foi óptimo. Não havia bichas para nada. Mais tarde, fiz vários telefonemas, sempre devidamente atendidos, comprei uma bomba (de imersão!) e uns produtos para a “ajuda de berço”. E fiz mais o que tinha a fazer, sem perturbação alguma.
Em suma, na parte que me toca, um dia como os outros.
Não, não estou a defender o governo, chiça, caraças, t’arrenego!
Afinal o que aconteceu?
Para além dos idiotas da Auto-Europa, que obedeceram ao malandrão do Louça, entraram na greve alguns dos quem tem o emprego garantido até à morte: uns funcionários públicos, uns tipos da Carris que até têm barbeiro de borla, e mais uns quantos que não têm muito com que se preocupar, designadamente com mostrar serviço ou qualidade no trabalho.
Os que trabalham, ou seja, os que têm um trabalho propriamente dito, aqueles para quem o trabalho é uma coisa digna e não uma sinecura vitalícia, não fizeram greve.
Há os outros, os desempregados propriamente ditos - também os há, e muitos, que o são por opção ou conveniência - que não podem fazer greve. Esses são os verdadeiros prejudicados, não o governo ou os patrões. Mas isto não entra na cabeça dos condotieri destas coisas, porque não estão, nem de longe, interessados no problema dos desempregados. O que querem é manter as clientelas.
Há quem diga que o IRRITADO é contra o direito à greve. Não é verdade. É contra os que o utilizam como utilizam.
Podem até dizer que o IRRITADO acha que não há razão para protestos. Também aqui não acertam. Há razões, inumeráveis razões, brutais razões. Só que não são as do Carvalho da Silva nem as do careca da UGT.
Resumindo:
A greve foi um flop. Os sindicatos que baralhem os números e falem de um grande triunfo. A ministro do trabalho que diga, com a propriedade que a caracteriza, que foi entre 5 e 90 por cento. Não interessa. O país que trabalha, que trabalha mesmo, trabalhou na mesma.
O efeito da greve, para além de privar os grevistas de um trigésimo do ordenado, foi nenhum.
O governo continuará a aldrabar-nos a todos e a fazer asneiras umas em cima das outras, exactamente como se não tivesse havido greve.
Tudo como dantes, quartel em Abrantes.
O abismo lá está, calmo como um mar sereno, à nossa espera. Não precisa esperar muito.
24.11.10
António Borges de Carvalho