GASTRONOMIA, HOTELARIA E CASACA
No dia 16 de Dezembro de 2005 (mais ou menos) fui jantar ao Eleven. Foi a primeira e a última vez.
Viria a ficar de boca aberta quando li que o local tinha sido contemplado com uma estrela Michelin. Ou os tipos mudaram tudo, ou o Guia Michelin anda muito por baixo, ou recebe umas massas para dar estrelas.
Li ontem que a coisa tinha perdido a estrela. Ou o Guia Michelin ganhou juízo, ou os tipos não pagaram a quota.
Há meia dúzia de anos, passei uma noite na Quinta das Lágrimas. Uma noite tenebrosa num quarto miserável, diante de um laguinho cheio de porcaria. O tipo do bar nem uma sanduíche sabia fazer. A menina da recepção tratava-me por Senhor António. O chá era tão miserável que, depois do lanche, não me coube na cabeça jantar lá. Há quem diga que fiz mal. Verdade é que o estabelecimento anda nos guias dos Relais et Châteaux e tem uma estrela Michelin. As quotas devem estar em dia.
O falecido “Independente” tinha uma secção de gastronomia onde, todas as semanas, vinham rasgados elogios a uma tasca invivível, em Cascais, chamada “Pereira”. Fui lá uma vez e jurei para nunca mais. Ressalvo que, anos depois, o “Pereira” se mudou para novas instalações e, hoje, não é mau.
Um tal Viegas, fulano que deve saber de tudo, de gastronomia a literatura, política, champôs anti-caspa, etc., com lugar cativo em vários programas da TV, tecia, já não sei onde, encomiásticas referências a uma coisa que se chama “Fronteira”, ali para os lados de Janes. Nem no mais repugnante rancho da tropa do antigamente se comia tão mal.
Aqui temos, para variar, algumas irritações que não têm a ver com política nem com o senhor Pinto de Sousa.
No entanto, helas!, uma dentadinha não gastronómica nem crítica do senhor Pinto de Sousa me assalta o espírito, sempre sedento de razões de queixa e atento ao que se passa.
As referências ao Eleven e à Quinta das Lágrimas trazem à colação o seu ilustríssimo proprietário, um tal Júdice. O Júdice tem sido de tudo um pouco na política deste país. Já foi do PSD, da direita do PSD, já saiu do PSD, pela esquerda, já apoiou os socialistas, o Sampaio, o Costa, já isto e já aquilo. Vai a todas. Agora, ao mais alto nível, claro, vestiu a casaca de apoiante do Prof. Cavaco. É membro da comissão de “honra” da candidatura. Vai daí, com certeza para que lhe não ponham em causa a “liberdade de espírito”, virou a casaca e publicou um livreco a dizer… mal do Prof. Cavaco.
Não, não esperou até depois das eleições para o fazer. Ou seja, como acha que o Prof. Cavaco vai ganhar, apoia-o. Para manter em funcionamento as pontes para outras áreas e mundos, sangra-se desde já em saúde e, dando belos argumentos aos inimigos do Prof. Cavaco, trata de proclamar a sua “independência”.
Neste momento, deve estar a revirar a casaca.
O homem tem razão. Nunca se sabe o que está para acontecer. Mais vale prevenir que remediar. Não é difícil virar a casaca quando se é “independente”.
28.11.10
António Borges de Carvalho