EMIGRAÇÃO
Entre 1880 e 1910, a emigração portuguesa foi, em média, de 30.000 cidadãos.
A seguir ao advento da I República (1912) a emigração viu-se multiplicada por 3 (88.929).
Em 1920, teve outro pico (64.783).
Em 1930, já na II República, a emigração reduziu-se para 23.196, descendo a seguir até ao seu mais baixo número (893), em 1943.
Começou depois uma imparável subida: 21.892 em 1950, 35.159 em 1960.
O seu mais alto valor registou-se em 1970 (183.205).
Voltou aos valores médios “tradicionais” em 1980 (25.173), 1990 (42.584) e 2000 (35.489), ainda que com evidente tendência de subida.
A partir de 2.000 a emigração sobe de novo em flecha, cifrando-se em 108.388 em 2007 e em 101.595, em 2008.
Não há números relativos a 2009/2010, mas tudo indica que os números engrossam a cada dia que passa.
Se tentarmos uma curta análise a estas curvas migratórias, poderemos tecer algumas considerações interessantes.
- A I República fez fugir do país um número nunca visto de cidadãos;
- Tal número desceu, mas foi-se reforçando de novo à medida que a “esperança” republicana se revelava desesperante;
- A II República era tida por negação da desgraça da primeira e, por isso, trazia uma nova esperança. Por isso, e porque o controlo da emigração apertou, conseguiu, até aos anos 40, uma diminuição relevante do fluxo emigratório;
- A partir de 50, porém, o descrédito da II República começou a crescer, a emigração também;
- De 60 em diante, com as guerras ultramarinas e a miséria do nosso mundo rural, a emigração subiu em flecha, para números jamais atingidos;
- A III República trouxe outra vez alguma esperança. A emigração regressa a valores “tradicionais”, conhecendo o seu ponto mais baixo no princípio da década de 80 (AD);
- Voltou a subir novo, situando-se em valores aceitáveis até 2.000;
- O socratismo, arruinando (definitivamente?) a esperança democrática, criou nova curva ascendente, voltando a emigração a ultrapassar largamente a centena de milhar.
A grande diferença, que está à vista de todos, entre a emigração dos séc. XIX/XX e a d séc. XXI, é a natureza do fluxo.
Antes, os emigrantes portugueses eram, quase sem excepção, gente pobre que demandava os brasis à procura de melhores dias ou, mais tarde, que ia engrossar os trabalhadores básicos na Europa.
No séc. XXI, ainda que se mantenha a emigração pobre em busca de melhores salários, a percentagem de gente qualificada que não tem futuro na Pátria e a procura lá fora é aterradora.
Merece reflexão, não é?
29.11.10
António Borges de Carvalho