GUERRAS TAVARIANAS
O Tavares (Sousa) é contra o Wikileaks.
O Tavares (Rui) é a favor do Wikileaks.
O IRRITADO leu o Tavares (Rui) e percebeu a matriz da guerra que se estabeleceu entre eles.
Não é uso do IRRITADO defender as posições do Tavares (Sousa), nem meter-se na conversa de terceiros.
Mas o texto do Tavares (Rui) tem que se lhe diga.
Escreve o deputado comunista que há “segredos justificados e/ou necessários”, mas que se espalha por aí uma “cultura de secretismo crescente nos últimos anos”. Depois, determina o que, no seu alto critério - que devia ser adoptado por toda a gente - faz parte dos “segredos justificados e ou/necessários”.
Acha, por exemplo, que o que os EUA consideram como alvos do terrorismo que podem pôr em causa a nossa segurança, não faz parte dos “segredos justificáveis/necessários”. Não acha, por isso, que as informações sobre tais alvos sejam secretas. Não. O que é preciso é que os terroristas, que o Tavares (Rui) defende - já não é a primeira vez - saibam onde devem atacar, em vez de andar, coitados, a perder tempo com alvos menores.
Num mundo em que o volume de informação é cada vez maior, em quantidade e qualidade ou falta dela, o Tavares (Rui) descobre uma alarmante “cultura de secretismo”. É assim como dizer que a descoberta do Vasco da Gama encurtou os horizontes da humanidade.
O Tavares (Rui) acha que os embaixadores, sejam eles quais forem, deviam mandar para os jornais todas as informações que prestam aos seus governos, sob pena de estar a colaborar num horrível “secretismo”. Supõe-se que, quando o plumitivo escreve à companheira ou, na linguagem do Bloco, ao/à companheiro/a, a lembrar as delícias dos seu último encontro, manda imediatamente o texto aos jornais ou, mais modestamente, ao Facebook.
O Tavares (Rui) acha que todas as informações do Wikileaks, uma vez filtradas por quem as compra - os “cinco mais prestigiados jornais mundiais”, todos de esquerda como é lógico - são do maior interesse público, nelas incluindo as “fofocas fúteis” (palavras dele) que para aí vicejam. Então, se boa parte de tais fofocas foram publicadas pelos excelsos jornais, onde está o “tratamento editorial criterioso”, que tanto admira?
Uma questão que o deputado comunista evita é a de saber o que valem as informações dos embaixadores americanos ao seu governo. Valem as impressões que cada embaixador tem sobre este e sobre aquele, valem a informação do que ouviram nos mentideros das capitais, são, na esmagadora maioria dos casos, informações destinadas a ser verificadas e filtradas por outras instâncias, não se lhes podendo atribuir, cegamente, a reprodução de qualquer verdade irrefutável.
Publicá-las, atribuindo às impressões dos embaixadores as características da mais verdadeira das verdades, é o contrário do jornalismo. É violação de correspondência, quando não de segredos de Estado ou de assuntos legitimamente tornados secretos. E é, na origem, puro roubo, compra e venda de material roubado, cujos praticantes e defensores deviam ser exemplarmente punidos nos países onde a Moral e o Direito ainda têm algum significado.
Mas não é a destruição dessa Moral e desse Direito o objectivo principal dos comunistas?
Tudo se torna claro, “transparente” e lógico, se olharmos com alguma atenção as opiniões do Tavares (Rui).
16.12.10
António Borges de Carvalho