INQUIETO ELOGIO
É muito grato ao IRRITADO verificar que a Igreja do Sacramento, na calçada do mesmo nome, tem o seu interior reabilitado e volta a proporcionar aos crentes um belíssimo local de oração e, a crentes e não crentes, um extraordinário testemunho da arquitectura e da pintura portuguesas dos finais do séc. XVII.
Português e lisboeta, o IRRITADO agradece a quem pagou e a quem fez a recuperação do precioso monumento.
Na sua ignorância destas matérias, o IRRITADO nota a estranha circunstância de se ter feito a recuperação do interior do templo deixando o seu exterior num estado miserável.
Quem subir umas escadinhas com que o camarada Siza, quiçá por portuense crueldade, brindou o Chiado, chega a um pátio onde é possível “apreciar” os telhados e parte de uma empena da igreja. Quem descer do largo do Carmo para o estacionamento, “apreciará” também o que se passa com os anexos. E quem passar na Calçada, poderá deleitar-se “apreciando” o estado da fachada.
Quando a chuva, o vento, a degradação progressiva do tempo que passa começar a destruir o que se reconstruiu no interior, então aqui d’El Rei que a culpa é deste daquele e daqueloutro.
O IRRITADO pede aos mecenas que tão generosamente proporcionaram a restauração do interior que dediquem algum tempo e algum dinheiro a dar ao exterior a dignidade e a estabilidade. Mais que não seja para proteger o que fizeram lá dentro.
30.12.10
António Borges de Carvalho