É SÓ CHATICES
O panorama informativo não podia ser mais chato, ou mais triste.
Tirando o Mourinho, é tudo patético ou sórdido, abusivo ou desinteressante.
O caso Castro/Seabra, repugnante historieta, há quinze dias não nos larga. Ele é a mãe de um, as irmãs do outro, os amigos do morto, os colegas do preso, a missa das balzaquianas na basílica da Estrela, a Xixinha, a Canecas, os elogios, os amores, as amizades proclamadas de lagriminha a não querer surgir e sorrisinho amarelo, falsamente contido para as TV’s. Ele é as revistas cor-de-rosa, melhor diria cor de caca, coisa que não leio mas de que vejo as capas no quiosque e no dentista, os pormenores, o saca-rolhas, o laptop, os testículos, o manicómio, o procurador, o advogado, as cinzas, sei lá.
Uma Chatice.
O Dr. Henrique Monteiro titulava no Sábado, a propósito das dívidas que o senhor Pinto de Sousa nos arranjou, que o problema, segundo o Wall Street Journal, era saber se se trata de “Um horror sem fim ou de um fim horroroso”. Aforismo que, mutatis mutandis, se aplica na perfeição ao caso do pederasta cronista cor-de-rosa, ou cor de caca. Teve um fim horroroso. O rapaz, pretendente ao mal cheiroso mundo da moda, vivia num horror sem fim: saiu dele da pior maneira.
Tão horrível como o que aos dois aconteceu é esta emoção social que, sedentos de tostões, os media criam, servidos por exércitos de “psicólogos”, de “famosos”, de intriguistas, trafulhas e oportunistas de todos os tamanhos e feitios. Não podia ser mais sórdido, ou mais nojento.
Uma chatice.
A seguir, vem a campanha eleitoral para a Presidência da República. Coisa que toda a gente já percebeu só interessar na medida em que há quem queira evitar o Alegre - as pessoas normais - e quem se empenhe em mandar o Cavaco para casa - certos esquerdistas mais ou menos obsoletos.
É sabido que isto de eleger o Presidente é uma maçadoria insuportável e serve para pouco. É sabido que o Presidente é uma excrescência do regime, cuja função é, ou mandar umas bocas ou (caso Sampaio) fazer asneiras.
A campanha é um reflexo desta triste realidade. Dois candidatos propriamente ditos mais um homem sério mas nefelibata mais três pataratas mais um palhaço. Todos debatem o indebatível: os poderes que (não) vão ter, as decisões que (não) vão tomar, sendo de acrescentar, em quatro deles, a perseguição sem quartel do mais cotado e, no caso do Gomes, ou Lopes(?), as “soluções” estalinistas que tão brilhantes resultados deram por esse mundo fora.
Horas e horas disto.
Uma chatice.
Há também, ainda que algo prejudicada pelos casos acima referidos, a piscina informativa do défice, da dívida, da mão estendida, do FMI. O PM a dizer que não pediu esmola ao Catar, o MNE a dizer o contrário, o MF a arrancar elogios ao seu servo do “Expresso”, um tal Santos.
Já toda a gente percebeu. Há para aí um ano que não há quem não se pronuncie, as pessoas de uma maneira, os partidos comunistas de outra e o governo de maneira nenhuma, como é seu hábito. Toda a gente já percebeu que, com esta gente, não vamos longe. O FMI, que já por aí andou duas vezes sem fazer propriamente mal a ninguém, antes pelo contrário, passou a bombo da festa, bode expiatório e perigoso mafarrico, até na boca daqueles que o mandaram vir, como o Dr. Soares.
O diagnóstico está feito, o governo não quer que esteja, tem um cancro e acha que está só constipado.
Jornais e jornais, noites e noites disto.
Uma chatice.
A fechar, as cheias do Brasil. Coisa séria, coisa desgraçada para os brasileiros e para quem sente por eles. Tiremos o chapéu.
Para os media trata-se de explorar à exaustão o corpo que é levado centenas de vezes pela enxurrada, os desalojados, os afogados, os socorristas, a dona Gilma "presidenta" e, q.e.d., "ignoranta", o número de mortos a crescer, a prima do cunhado do morto, a polícia, a lama, tudo em catadupas, horas e horas. Uma desgraça tratada como se fosse a palhaçada dos óscares ou a volta a Portugal em bicicleta.
Uma coisa séria transformada em patética chatice.
17.1.11
António Borges de Carvalho