NO REINO DA TRAFULHICE
Em mais uma bem-sucedida sessão de propaganda, o nosso ditoso primeiro-ministro inaugurou mais uma floresta de moinhos de vento, desta vez composto por 48 reluzentes turbinas.
Muito bem, diz a malta.
Vamos “poupar”, diz o propagandista. Nada menos que 7 milhões de euros por ano em importações de crude. Ou seja, se tudo correr bem, isto é, se o vento for constante, daqui a 18 anos teremos recuperado (em crude), o actual investimento de 126 milhões.
Como ninguém sabe o que vai acontecer ao vento, teremos que ter uma central térmica auxiliar, a gás, carvão ou petróleo. Esta, para garantir o abastecimento na calmaria, terá que estar num oneroso stand by, quer dizer, tem que se manter a trabalhar em baixo regime. Estas contas não foram, como é lógico, apresentadas pelo ilustre cavalheiro.
Não faz mal. Partamos do princípio que os números de sua excelência estão certos. Se os novos 48 moinhos custaram os tais 126 milhões, teremos 2.625.000 euros por cada um. Como também diz que já há, em Portugal, 2.000 coisas destas, o investimento irá em cerca de 5.000.000.000 (cinco mil milhões de euros), só em pazinhas rotativas.
Continuando a usar os números oficiais, coisa que crédito algum merece, como é sabido e largamente comprovado, ficamos a saber que a benemérita EDP faz tenções de facturar 20 milhões por ano com estas 48 borboletas, aos preços actuais. Uma regra de três diz-nos que, com os dois mil gadgets já em funcionamento, a EDP facturará 884.000.000 (oitocentos e oitenta e quatro milhões de euros) por ano.
Outro número propagandeado pelo senhor Pinto de Sousa diz-nos que, hoje em dia, 53% da electricidade consumida em Portugal se deve a energias renováveis. Ainda que este número não seja o mesmo que a EDP há dias avançou, resta saber qual a proporção entre eólicas e hídricas, e qual o investimento por unidade de produção.
Como quem teve a pachorra de ler isto até aqui já deve ter percebido, nada disto é para perceber.
E como o que o cidadão comum o que quer saber é se paga mais ou menos pela energia que consome, o que percebe é que lhe estão a meter os dedos pelos olhos dentro. O país pode, nas magníficas palavras de sua excelência, estar “à frente” da esmagadora maioria da humanidade nestas matérias. A conclusão é que quanto mais “à frente” mais caro.
Como se pode engolir o maná de benesses lançado pelo senhor Pinto de Sousa sobre o povo e, ao mesmo tempo, ver o preço da electricidade a aumentar todos os dias, sendo ainda o povo acusado pelas “autoridades”, de estar a provocar um monumental défice de facturação que vai ter de pagar de uma forma ou de outra.
A “consolação” estará em saber que, segundo o ilustre governante, só por causa destes 48 moinhos, vamos produzir menos 117.500 toneladas de CO2 por ano, o que, segundo os meios oficiais que se debruçam sobre o “aquecimento global”, muito deve agradar ao planeta. Isto, enquanto o dito planeta, borrifando-se em teorias e trafulhices, faz humanidade inteira, e nós com ela, tiritar de frio e morrer afogados em chuva.
23.1.11
António Borges de Carvalho