VITÓRIAS
VITÓRIAS
Ontem, como em todas as eleições, houve uma enorme quantidade de vencedores.
O hediondo barbichas lá do Minho, com o seu por cento, conseguiu “confirmar”, segundo diz, as suas ordinaríssimas bocas de campanha. Grande vitória, como se alguém no seu perfeito juízo acreditasse num repolho daqueles.
O palhaço da Madeira registou um notável score. Eis o que um zero à esquerda pode conseguir com umas piadas e três canais generalistas mais três do cabo a dar-lhe cavalaria. Indiscutível vitória.
O funcionário do PC, que não conseguiu mobilizar as massas habituais, foi um magnífico herói, pelo menos nas palavras esclarecidas do Jerónimo. Denunciou as manobras do capital financeiro e de outros culpados do costume, conseguindo tudo isto sem ligar as suas receitas aos magníficos resultados que têm tido em Cuba, na Coreia do Norte - a menina dos olhos do camarada Bernardino - e noutros desvairados locais. A inevitável vitória.
O Dr. Nobre, chapeau, conseguiu muito mais do que a campanha podia fazer prenunciar. Queixou-se dos media, o que, por falta de razão, lhe fica mal mas anima as hostes. Só não se percebe porque é que esta candidatura se arroga o exclusivo da cidadania, inculcando que quem votou nos outros não é cidadão ou não merece o qualificativo. Grande vitória.
O camarada Alegre teve mais do que merecia, já que nada merecia. Apressou-se a realçar as suas excelsas qualidades, sem referir a maledicência barata e o negativismo bacoco e palavróide da sua campanha. Mais uma vitória, neste caso do país, que vai, finalmente, ver o homem ir para casa escrever umas quadras.
No meio de tantas vitórias dos seus inimigos, quem ganhou foi o Doutor Cavaco. Novidade foi que, em vez da abrangência habitual na circunstância, se atirou que nem um cão raivoso às canelas dos adversários. Se isto quisesse dizer alguma coisa quanto ao futuro, talvez nós também tivéssemos ganho. Não é de crer que esta hipótese tenha pés para andar, mas...
O que incomoda, no meio desta pessegada, é pensar que é provável que o grande vencedor destas eleições foi o camarada Pinto de Sousa.
Viu-se livre do Alegre de uma vez por todas.
Sabe que haverá uma probabilidade em mil de ser corrido do poleiro pelo Presidente da República, já que o homem não é, como o seu miserável antecessor, dado a golpes de Estado.
Acredita, com razão, que o “novo” Presidente não vai à bola com o Passos Coelho, sendo que jamais gostou que alguém do seu próprio partido ganhasse fosse o que fosse.
Pensa (se é coisa que faça ou saiba fazer) que, com este Presidente, com mais umas esmolas e mais umas sessões de propaganda, talvez se aguente três anos.
É preciso perceber que o Pinto de Sousa jamais teve outro objectivo que não fosse aguentar-se.
Por tudo isto, deve dar por bem empregue o seu voto no Cavaco (vil e ignominiosa insinuação do IRRITADO).
Outra coisa vale a pena dizer sobre estas eleições. O palhaço da Madeira teve, na ilha, trinta e três por cento. O que quer dizer que o “patriotismo” madeirense veio ao de cima, mesmo que representado por um palhaço. Calcule-se o que aconteceria se se tratasse de um tipo com alguma credibilidade!
Isto levanta a questão da independência da Madeira.
A descolonização foi racista, isto é, deu a independência aos pretos e negou-a aos brancos. Talvez, vistos os resultados eleitorais, seja de pensar em mudar a mão. Por outro lado, há quem diga que o senhor Pinto de Sousa já pensou que, se calhar, em vez de andar a mendigar, talvez fosse de vender umas ilhas em hasta pública, ou em negociação directa, que é a sua especialidade.
A ver vamos, como diz o cego.
24.1.11
António Borges de Carvalho