NORTE E DESNORTE, BOA E MÁ SORTE
Segundo notícias não desmentidas:
1. Uma associação de municípios, lá para as Beiras, sacou 25 milhões de euros (5 milhões de contos) à União Europeia, ao Estado e aos municípios participantes, a fim de criar sites na Internet para fins de “desenvolvimento”(!). Acontece que os sites não funcionam, os milhões desapareceram e jamais foram apresentadas contas da sua eficaz e produtiva gestão(?). Presume-se… presume-se o quê? Que os milhões fizeram um jeitão.
Dado o sucesso da operação, os municípios responsáveis(?) preparam-se para extinguir a associação, possivelmente antes que alguém comece a fazer perguntas desnecessárias.
2. Em Guimarães, foi criada uma “fundação”, a FCG - Fundação Cidade de Guimarães, da responsabilidade da Câmara local. A estrutura destina-se a preparar e gerir um “evento” cujo nome me escapa.
Tal como a caótica multidão de fundações públicas em que os anos mais recentes têm sido férteis, também esta tem uma “administração” e um “conselho geral”.
A “chefa” da administração foi contemplada com um ordenadinho de 14.300 euros por mês, 14 meses por ano. Quando se der ao luxo de ir a uma reunião, não se sabe se todas se só as do conselho geral, a madame será contemplada com mais 500 euros pelo trabalho, supõe-se que realizado dentro das horas de expediente. Desconhece-se se receberá também subsídio de refeição e horas extraordinárias, mas é de presumir que serão de inteira justiça. Disporá ainda, por conta da mesma conta, de um carrito, ou carrão, e de um telemóvel com chamadinhas pagas.
A esta ilustre cidadã, por certo muito conhecida lá no prédio, juntam-se uma administradora e um administrador, ambos executivos, desta vez, coitados, a ganhar só 12.500 euros por mês e 300 por reunião, mais carro, etc. Há depois um quarto elemento contemplado com uns míseros 2.000 euros/mês mais os sacramentais 300 por reunião. Algo me diz que este é o que vai trabalhar (maledicência!).
A servir de décor a este ramalhete, o conselho geral (15 cidadãos!) é integrado por altíssimas figuras da nossa praça, tais como Jorge Sampaio (500 por reunião), Adriano Moreira, Freitas do Amaral e Eduardo Lourenço (300 cada), presumindo-se que, como é natural, tenham transportes ajudas de custo garantidos nas suas deslocações ao Minho. Imagine-se o que custa cada reunião.
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Diz-se que a região Norte é aquela que mais sofre as consequências de seis anos de consulado do senhor Pinto de Sousa. As Beiras não sofrem tanto, mas estão longe de “uma boa”.
É neste panorama que se inserem os dois acontecimentos acima referidos.
25 milhões desaparecidos, três tipos a ganhar mais de duas vezes o que ganha o Presidente da República. Tudo dinheiro público.
No caso da “fundação”, um bouquet de celebridades públicas nacionais coonesta a situação, o que, em si, é mais escandaloso e aviltante que tudo o resto.
O Norte perdeu o Norte.
Uns fulanos estão cheios de sorte.
A malta não tem sorte nenhuma.
Se houvesse regionalização era ainda pior, não era? É como quem diz a um tipo que partiu uma perna que tem muita sorte em não ter partido as duas.
27.1.11
António Borges de Carvalho