LITERATICES
Esta semana, o “Expresso” contemplou-nos com uma publicitadíssima “biografia” de Fernando Pessoa. Muito bem. Obrigadinho.
Duas pequenas observações:
- A capa do livrinho, que nada deve ao que se chama design gráfico, vem ilustrada com o logótipo da série, com uma fotografia do Poeta e com a sua assinatura. Reza: Prefácio: Clara Ferreira Alves.
O leitor interroga-se: quem será o autor da “biografia”? O São Lucas?
Depois, percebe. O “Expresso” dá mais valor e essa altíssima figura da cultura, da inteligentsia e da literatura nacional, a quem devemos a subida “bondade” de nos iluminar com um prefácio, do que ao desconhecido autor do livro que a impressionante deusa prefacia. Que destaque merece o tal autor? Quem é ele? Um tal João Gaspar Simões, que ninguém sabe quem é? Que destaque, sequer menção, merece o seu nome, se não fez mais que escrever um livrinho qualquer que só terá valor por ser prefaciado pela rebrilhante criatura Alves? Nenhum!
Na página três lá vem, em letra miúda, o nome do tal João Gaspar Simões, por acaso (diz o IRRITADO) o mais importante crítico literário português do século XX. Mas que valor tem, na opinião do “Expresso”, a opinião do IRRITADO?
- Mais engraçado, ou menos, é que o livro não é biografia nenhuma. Como se poder ler no título e subtítulo do autor - Fernando Pessoa, Ensaio Interpretativo da sua Vida e da sua Obra - trata-se de um Ensaio - opinião crítica - não de historiografia biográfica.
O IRRITADO recomenda ao “Expresso”, sem grande esperança de ser ouvido, que reedite a obra, com os seguintes dizeres na capa:
João Gaspar Simões
FERNANDO PESSOA
Ensaio Interpretativo da sua Vida e da sua Obra
Prefácio de Clara Ferreira Alves (sem dois pontos no meio)
Disse.
8.3.11
António Borges de Carvalho