A REPÚBLICA DOS CARROCEIROS
Quando o Presidente dos EUA, da Rússia, ou seja de onde for, entra na sala, os circunstantes levantam-se. Se se trata de sessão solene, levantam-se e aplaudem-no na sua qualidade de mais alto representante da República. Se se trata da posse do mesmo, por maioria de razão o fazem.
Seja de onde for? Não! Em Portugal, país de carroceiros à beira-mar plantado, os senhores deputados fazem como lhes apetece. Não estão ali para honrar a República, de que tanto dizem gostar, mas para mostrar o seu desagrado por ver um Presidente que, ainda que eleito pelo povo, que proclamam soberano, lhes não agrada.
Bando de carroceiros! Porcaria de República!
A República Portuguesa, nas suas três versões, e salvo raros momentos, sempre foi uma porcaria. Aliás, é como a pescada, que antes de o ser já o era.
Mas ontem foi mais carroceira que de costume.
A esquerda é ordinária, sempre foi ordinária, será sempre ordinária. Mas poder-se-ia pensar que, tratando-se da menina dos seus olhos - a República - teria a decência de tratar com protocolar urbanidade o seu representante. Não. Os tipos não aplaudem, não se levantam, só ali estão à espera de sair cá para fora e desatar aos pontapés ao Presidente perante matilhas de jornalistas que, não se vislumbra porquê, são autorizados a invadir os passos perdidos sempre que lhes apetece.
O carroceiro chefe, dito Sócrates, faz jus ao seu ordinaríssimo estilo. Deixa o Presidente à espera, enquanto ele “recebe” a “comunicação social”! Mais carroceiro é impossível.
De certa forma, está certo. O Presidente actual, como todos os seus antecessores, proclama-se “presidente de todos os portugueses”. Nunca nenhum deles foi presidente fosse de quem fosse. Foram o que este é, Presidentes da República. E mais nada. É o que reza a Constituição, em rara manifestação de acerto.
Ora os carroceiros, que nem a sua república respeitam a não ser a benefício próprio, se demonstraram a sua baixíssima moral republicana na sessão de ontem, demonstraram também que Cavaco Silva não é presidente “deles”. Tem, por isso, a mais elementar obrigação de ser fiel aos que o elegeram, não aos que não se levantam quando o recebem no Parlamento nem têm para com ele palavra ou gesto de respeito, antes se apressam a dizer dele as maiores alarvidades.
Depois disto, o que o Presidente tem a fazer é ser ele a puxar ele pela carroça, já que os carroceiros de serviço nem de mulas percebem.
10.3.11
António Borges de Carvalho