OS FOLES DA CRIATURA
Eu não dizia?
A criatura tem sete foles, qual deles mais aldrabão.
O primeiro fole foi o célebre orçamento, em que, tendo aumentado o défice, andou a convencer a malta de que o tinha descido, a partir de um número inventado, que transformou em “verdade”. Mas safou-se.
O segundo foi o curso pirata. Em si, não será mal maior. Males maiores são as mentiras que a tal respeito a criatura teceu. Mal maior foi não ter sido liminarmente corrido pelo PR, uma vez que não se pode considerar que as instituições democráticas funcionem a contento se comandadas por um tipo daquela laia. Mas safou-se.
O terceiro foi o dos andarinhos da Braancamp, comprados “à la manière”. Um tipo pode comprar andares “à la manière”. Não pode é fazê-lo e ser primeiro-ministro. Mas safou-se.
O quarto foi o da PT/TVI. Provou-se à saciedade que a criatura estava metida na marosca até ao pescoço. Provou-se à saciedade que a criatura mentiu ao Parlamento, ainda que um artista do BE tenha escrito que uma coisa era dizer propositadamente o contrário da verdade, outra era mentir. Um tipo pode querer correr com a Guedes de uma estação privada, não pode é ser primeiro-ministro ao mesmo tempo. Ninguém lhe pode dar qualquer resquício de benefício da dúvida. Mas safou-se.
O quinto foi o do Freeport - “fripór” no linguarejar da analfabeta criatura. As provas não foram consideradas, ainda que estejam escarrapachadas no Diário da República. A criatura safou-se.
O sexto foi o da sucata. A criatura foi apanhada em conversinhas com os amigalhaços que estão a ser julgados. Matéria ignorada e/ou destruída. Safou-se, ou vai safar-se.
O sétimo tem-no a criatura em fase de enchimento. Ontem, não houve mentira que não afirmasse, nem verdade que não escondesse. Sem ele, é o dilúvio, o tsunami, a desgraça. Tudo por culpa dos outros. Não há desgraça que a queda da criatura não nos traga. Com ela, tudo se justifica. De forma que, quando a criatura se apresentar perante os credores sem um chavo, ou quando se entregar nos braços da chamada “ajuda externa”, tudo não passará de maquiavélica maquinação dos outros. A criatura começou por declarar que não estava a falar de mais um PEC, mas numa simples declaração de intenções a aplicar em caso de azar vindo, como é costume, do exterior. Meia hora depois declarava que se tratava de mais um PEC, com a mesma cara de alarve com que dissera precisamente o contrário. Se a coisa passar, trata-se de medidas que, se os outros se portarem bem, não serão aplicadas. Se a coisa não passar, então era um PEC, precioso documento que a criatura até está disposta a “negociar”. A criatura, que jamais negociou fosse o que fosse, fosse com quem fosse, diz com a maior candura que quer “negociar”! Negociar o quê? O que a criatura já apresentou em Bruxelas como facto consumado?
A ópera bufa a que ontem assistimos, ou é entendida como tal, e o seu autor posto com dono, ou então…
O IRRITADO espera que o sétimo fole rebente e rebente com a criatura de uma vez por todas. A alternativa é continuarmos a afundar-nos no buraco que ela cavou, a olhar para um Presidente paralítico, a ouvir o líder da oposição a dizer coisas honestas, como disse a sua predecessora. Ela lixou-se. A criatura safou-se.
16.3.11
António Borges de Carvalho