A LUTA CONTINUA
Esta manhã, milhares de pessoas se acotovelaram aqui em Lisboa, à chuva, à espera dos autocarros. O metro estava em greve! A 100%, dizem. Na hora de ponta, como é de timbre.
A luta dos que têm emprego certo contra os que o não têm continua, empurrada pelas mesmas organizações e pela mesma “solidariedade socialista e republicana”.
Quanto mais desempregados houver, melhor. Nós, que não podemos ser postos na rua, aproveitamos a desgraça dos outros para sacar mais umas massas e mais umas regalias. Por palavras outras, mais odiosas, mais cínicas, mais enganadoras e mais eficazes, deve ser isto o que aconselham os donos dos trabalhadores, os carvalhos da silva, os jerónimos, os louças. Di-las-iam também os pintos de sousa e os soares, se estivessem no choco em vez de estar no poder.
A solidariedade é uma coisa que se apregoa, não que se pratique. Os “direitos” são para ser exercidos, mesmo que sem razão, mesmo que em prejuízo de toda a gente. Quanto mais se destruir, melhor.
Estas greves são, como é lógico, contra o patrão. Só que, neste caso, o patrão é o Estado, que vive do que lhe pagamos, ou seja, somos nós. O Estado já gastou o nosso dinheiro, mais o dinheiro que não temos nem vamos poder pagar, a não ser à custa de mais miséria e mais desemprego.
Os que agora param o metro e outros monstros estatais mais não fazem que aumentar a desgraça dos outros para tratar da barriguinha própria. Esta, ao contrário da daqueles que são objecto da solidariedade socialista, até nem está nada mal.
Os outros que se lixem. A solidariedade é connosco, não tem a ver com os outros. Viva o socialismo. A luta continua.
29.3.11
António Borges de Carvalho