HOUSE OF BIJAN
Já lá vai um bom par de anos, andava o IRRITADO - à época muito menos irritado que agora - a passear na 5ª Avenida, em Nova Iorque.
Eis senão quando vê, numa montra, uma camisa deslumbrante. Disse à mulher:
- Quero aquela camisa!
Ao que a senhora respondeu:
- Tu és doido, aquilo deve custar uma fortuna. Deixa-te de maluquices!
Mas o IRRITADO estava cheio de vício.
- Ó filha, uma extravagância, que diabo, tenho direito a uma extravagância!
À porta da loja agigantava-se um preto com dois metros de altura por um de largo, bicha até à raiz dos cabelos. O IRRITADO manifestou ao dito o seu desejo de entrar. O preto, com ar de florido desprezo, tirou o chapéu alto com que se engalanava e abriu a porta.
O IRRITADO endireitou as costas, assumiu um ar de milionário de Fornos de Algodres, e penetrou na loja por um corredor que devia levar ao sanctus sanctorum da instalação.
Apareceu então outro bichoso, de gravata às florinhas, tuxedo cor de rosa, unha polida e cara de parvo. Curvou-se, tipo palhaço rico, e disse:
- Sir?
Seguro de si, o cliente declarou que queria a camisa aos quadradinhos que estava na montra, do lado esquerdo. O bichoso pegou numa fita métrica, ou polegadétrica, e, delicadamente, passou-a pelo pescoço do IRRITADO, tendo o cuidado de o puxar suavemente para si. Cheio de nojo, o IRRITADO deixou-se medir, braços, barriga (ventre!), costas…
Passado este momento de intimidade, o bichoso pediu licença e desapareceu nas entranhas da loja. Minutos depois, com a dona Margarida a tentar evitar que o marido olhasse para outros produtos, não fosse dar-lhe mais alguma extravagância, o homem(?) do tuxedo cor de rosa voltou, afagando a maravilhosa camisa nas delicadas mãos.
- É isto mesmo!, disse o IRRITADO, felicíssimo, à senhora.
Ela não respondeu.
O bicharoco passou as mãos sobre a seda, num gesto de infinito prazer.
- That’s it, disse o IRRITADO.
A delicada criatura dobrou a camisa com infinitos carinhos, passou à sua volta uma fitinha de seda vermelha, fez uns lacinhos e, num gesto de ballet, colocou-a dentro de uma caixa almofadada. Fechou a caixa, atou-a com outra fitinha, fez mais uns lacinhos, meteu a caixa num saco de doce tecido, pôs o saco em cima da mesa e, sem o largar, declarou:
- It will be ten thousand dollars, please, Sir.
Após um segundo de hesitação, o IRRITADO respondeu:
- Thank you. Have a nice day.
Dignamente, meteu o rabo entre as pernas e, dando o braço à mulher, retirou-se pelo corredor fora e só voltou a respirar quando se apanhou na rua outra vez.
A loja chamava-se House of Bijan. Na opinião do IRRITADO deveria ser Bichan. Mas era Bijan.
Ora o Bijan, morreu!
No obituário dos jornais consta que o homem se gabava de ter a loja mais cara do mundo. É capaz de ser verdade.
Da sua lista de clientes constavam, entre outros, Schwarznegger, Tom Cruise, Anthony Hopkins, Vladimir Putin, Ronald Reagan e… José Sócrates, o nosso bem amado Pinto de Sousa!
É assim, meus amigos. Enquanto, paulatina e orgulhosamente, o senhor Pinto de Sousa arruína o país, vai fazendo umas comprinhas no Bichan. Bem o merece. Que diabo, um fatinho “vulgar” custa, no Bichan, uns míseros 35.000 euros. Que é isso para o senhor Pinto de Sousa? Peanuts!
À atenção do eleitorado.
19.4.11
António Borges de Carvalho