GRANDES SACRIPANTAS
Um tal Nuno Santos, fulano importantíssimo na RTP, veio acusar os historiadores que protestaram contra a hedionda aldrabice dos “Grandes Portugueses”, de querer “impedir os outros de ter uma opinião”.
Para a RTP, é óptimo, legítimo, de serviço público, pedir às pessoas que se pronunciam sobre qualquer português, de Dom Afonso Henriques a Cristiano Ronaldo.
Se queriam fazer um concurso deste tipo, é evidentíssimo que o mais elementar bom senso levaria a limitar os “elegíveis” àqueles para ao quais já houvesse passado o tempo necessário para se ter uma perspectiva histórica, sem com eles misturar os que são ainda objecto de subjectividade, de paixão e de clubismo.
Não o fizeram. O resultado foi que, do fundo dos sentimentos reprimidos pelas circunstâncias e da militância partidária, surgiram os fantasmas de Salazar e de Cunhal. Os saudosos de Salazar aproveitaram para tentar demonstrar que o homem ainda está no coração de muita gente, o que é natural, público e, a partir de agora, notório. Os comunistas e apaniguados, mais que não seja por disciplina, quiseram aproveitar a oportunidade para tentar demonstrar essa inverdade absoluta que é a admiração nacional por um fulano que, declarada e activamente, quis mergulhar o país numa hedionda ditadura.
A esmagadora maioria dos portugueses borrifou no assunto, dada a estupidez do que lhes era pedido. Honra lhe seja por isso.
O serviço público da RTP chegou aos píncaros do abuso e da desvergonha na segunda fase da aldrabice. Sem o mínimo respeito pelas pessoas que tinha levado a votar, meteu no mesmo saco dez portugueses (alegadamente os mais votados), baralhou, e tornou a dar. Isto é, contradizendo o próprio sistema que montara, a RTP torna secreto o número de votos recebidos, e “classifica” por igual os votados. O voto, desta vez, não foi secreto (as chamadas telefónicas dos votantes são identificáveis), mas foi-o o seu resultado. Ninguém sabe quantos votos recebeu quem. E não há uma única “autoridade”, das inúmeras que pululam por aí, que tenha exprimido a mais pequena indignação a este respeito! O novo conceito de voto secreto, inventado pela RTP, devia passar automaticamante ao Guiness da asneira, da aldrabice e da patacoada.
Bem pelo contrário, quem protesta é apodado pela RTP de querer calar os outros, impedindo-os de exprimir a sua opinião. A RTP não reconhece que atirou para a praça pública um processo viciado desde o princípio, nem que usou e abusou dos infelizes que se deixaram arrastar por ele.
A RTP não reconhece que lançou uma paródia absurda, uma maneira de apalhaçar a História, e uma escapatória para ódios e malquerenças recalcados. Antes se dedica a insultar quem protesta.
Grande Português, o tal Nuno Santos!
A coisa vai seguir o seu caminho. O Irritado cospe no assunto e não voltará a perder tempo com ele.
António Borges de Carvalho