DA BENEMERÊNCIA SOCRÉLFIA
Alcabideche, 15 de Maio de 2011 – No alto do morro mais ventoso e mais exposto às inclemências do Sol de Verão e aos tremores do Inverno, garantindo além disso aos utentes o diário esforço de subir o mamelão, ergue-se, orgulhosa, uma nova escola, testemunho evidente do acrisolado amor do governo pela educação.
Arquitectura “de autor”, como não podia deixar de ser. Coisa fina. A decoração exterior é feita com pedregulhos metidos em caixas de ferro e rede. Uma beleza! Presume-se que potentes máquinas assegurem o ar condicionado e o aquecimento, a fim de poupar energia.
A partir do próximo ano lectivo, as criancinhas poderão dizer, cheias de justificada alegria, que andam na Escola Bê Três Barra Jota Um.
Quanto não vale isto!
Vistas as coisas do lado dos “maus”, aqui temos um exemplo gritante de despesismo bacoco, um sinal claro da multiplicidade de razões que levaram ao estado de miseráveis candidatos a caloteiros em que nos encontramos, bem como dos estranhos caminhos das mentes “educativas” que nos vêm “ensinando” de há seis anos para cá: Escola Bê Três Barra Jota Um!!!
É evidente que não é criticável a melhoria e actualização do parque escolar. As escolas que havia – a maior parte já engolidas pelo mato e/ou vendidas aos patos-bravos, não tinham as condições necessárias às exigências da modernidade. De acordo. Mas não tinham aproveitamento? Não podiam, as mais delas, ser objecto da tão propalada “reabilitação”? Não podiam ser acrescentadas das facilities em falta?
Com certeza que podiam. Podiam, mas não davam tanto a ganhar a funcionários, arquitectos, engenheiros, construtoras, etc.
Num país na mais grave situação financeira da sua história – as comparações com o fim do século XIX são tão falsas como estúpidas – faz-se obra o mais cara possível, havendo, como é evidente, alternativas muito mais baratas, sem prejuízo da desejável qualidade construtiva e da eficácia pedagógica.
Quando o senhor Pinto de Sousa diz que fez isto, aquilo e aqueloutro, às vezes está a dizer a verdade. Só que não tinha dinheiro para pagar, nem isto, nem aquilo, nem aqueloutro.
Se eu der um Aston Martin a cada um dos meus filhos, que amor mostro por eles! O pior é que, como nem para um calhambeque coreano tenho dinheiro, acabo na cadeia por fraude e calote. E terão que ser os meus filhos a tirar-me de lá com os mais terríveis sacrifícios.
É o que se passa com as escolas Bê Três Barra Jota Um e com tantas mais, objecto de outras tão tresloucadas designações.
Quem diz escolas, diz o resto. Diz tudo o que o senhor Pinto de Sousa nos “deu”. Diz ao que a loucura instalada nos conduziu.
Enfim, ainda havemos de ouvir o senhor Pinto de Sousa afirmar que, depois do “óptimo acordo” que fez com a trempe, será para nós um honra ter que pagar, à trempe e a muitos mais, o preço incrível das taradices do paspalhão. E haverá quem acredite!
15.5.11
António Borges de Carvalho