NOVECENTOS MIL
Segundo o jornal “i”, o governo já cortou os apoios sociais a 900.000 pessoas/famílias.
É o estado “social” no zénite da sua gloriosa história.
Como já tem sido por aí largamente demonstrado, o “Estado Social” é uma recente recriação da III República.
O inventor e criador do Estado Social foi o Professor Marcelo Caetano. Quando, no seu tempo da II República, o homem se convenceu que, apesar da nossa vil tristeza, tinha dinheiro para pagar, arranjou, por exemplo, reformas para os rurais e para milhares de outros “não contributivos”. Era, segundo ele, o advento do Estado Social. E lá o foi pagando sem sobressaltos de maior.
A expressão foi, durante muitos anos, simplesmente esquecida, talvez por ser de origem “fascista”. Foi substituída por “direitos sociais”, invenção da constituinte que, desgraçadamente, nunca mais nos largou.
O senhor Pinto de Sousa recuperou a expressão marcelista, sendo, nisso, seguido pelos outros partidos.
Diga-se em abono da verdade que muito foi feito e que há muitos resultados positivos do que foi feito.
O problema é que a ignorância do senhor Pinto de Sousa, a este respeito e a todos os outros, é brutal.
Por isso, convenceu-se que havia dinheiro para espalhar à vara larga, e juntou à sua noção – se é que tem noções seja do que for – de estado social uma série de ideias estúpidas sobre as auto-estradas, as PPP’s, as “renováveis” e outras matérias que revoltariam qualquer ser minimamente pensante.
A partir daí foi fácil destruir a economia, arruinar o país, criar multidões de dependentes e convencer as pessoas que havia um “estado”, o dele, que “geria” um saco sem fundo, de onde saía dinheiro para todos, incluindo, et pour cause, os amigos do paspalhão a as chamadas empresas do regime.
Já que não pode deixar de pagar as PPP’s e as SCUTS, não pode deixar de pagar à malta das “renováveis” nem aos empreiteiros do CAV (TGV em gaulês), nem aos tipos do “Magalhães”, nem aos credores estrangeiros, nem à multidão de amigos e seguidores, achou por bem ir buscar o dinheiro onde ele é pouco, mas é muito, isto é, aos bolsos dos que não têm culpa nenhuma do descalabro, a não ser a que se refere a terem-lhe dado o poder por duas vezes. Esta culpa é gravíssima, mas a parlapatice do feirante “justifica” o engano dos crédulos.
Já lá vão novecentos mil. Outros, muitos mais, se seguirão. Mas o feirante, cada dia mais aldrabão, continua a dizer que está a defender o estado social, coisa que arruinou sem remédio. Fará, diz ele, o “seu melhor”.
O problema é que ainda há quem não tenha percebido que o melhor dele é o pior para todos nós.
15.5.11
António Borges de Carvalho