DOMINIQUE STRAUS-KAHN
Dizem as crónicas que o hotel onde o senhor Straus-Kahn cometeu o crime era um estabelecimento de super luxo.
Não acredito que haja um único hotel do género onde as limpezas dos quartos não sejam feitas por duas mulheres, dois homens, ou uma mulher e um homem ao mesmo tempo.
É sabido que os mesmos trabalhos, em qualquer hotel que se preze, são feitos de porta aberta, às vezes até com o carrinho da limpeza nelas atravessado.
É também sabido que a ofendida, durante dias cientificamente apresentada como uma pobre pretinha, viúva, paupérrima, mãe, etc., é uma pretalhona que teve uma criança aos quinze anos, que nunca teve marido e que ganhava razoavelmente os seus dias a arrumar quartos num hotel de primeira A.
É evidente que tal fulana foi cientificamente posta a coberto de olhares ou perguntas indiscretas imediatamente após a queixa e que, não fora uma reveladora fotografia que por aí anda, continuaria na nossa memória como uma desgraçadinha mal vestida e quase faminta.
É notório que a mulher do Dominique, que, a acreditar no que se diz, devia estar quase ou tão ofendida com ele como a criada do hotel, apoia o marido e não acredita no que se diz.
Tudo isto é verdade e tem vindo, aos poucos, a transparecer.
Vejamos agora quem é o Dominique:
- Um tipo que chegou onde chegou, no FMI e a mais não sei quantos lugares de topo, não é um “enarque”, sequer um “politechnicien”, condições absolutamente indispensáveis, uma ou outra, ou as duas, para se pertencer à aristocracia republicana da França.
- Um tipo que ameaçava gravemente a preponderância política de figuras como a do senhor François Hollande e das duas graças do PS francês, donas Ségolène Royal e Martine Aubry.
- Um tipo que, por razões da mesma natureza, constituía uma ameaça para o senhor Sarkozy e para a dona Le Pen.
- Um tipo mal visto nos círculos de Bruxelas e no BCE, porque, como é mais que evidente, não pensava da mesma maneira e queria pôr essas instituições a ter uma approche diferente, por exemplo em relação aos problemas das dívidas soberanas.
- Um tipo que suscitava as mais refinadas ciumeiras, desde as próximas às do Oriente, por ocupar um dos lugares mais convoités deste mundo.
- Um tipo que, sem que fosse quem fosse tivesse argumentos ou razões para acusar de corrupções, de desvios de fundos, de lavagens de dinheiro, etc., conseguia ser muito rico e viver como um lorde.
- Um tipo que, segundo tudo indica, não só gostava de mulheres como era desejado por elas.
Com tantas e tão evidentes invejas a rodeá-lo, é difícil imaginar que nenhuma ou nenhum dos atingidos por tal nobre sentimento tivesse procurado o calcanhar de Aquiles do fulano (as mulheres) e lhe tivesse metido a tentação no quarto: uma fulana cujo bem preparado currículo estava, em pormenor, prontinho para chegar à imprensa de todo o mundo em tempo real, uma meteórica intervenção policial e, ainda, um bom refúgio para a “ofendida”, não fosse a rapariga cair nalguma contradição pública e tornar-se no elo mais fraco de um bem preparado projecto de demolição.
Tudo isto parece evidentíssimo.
Não sendo de excluir, a priori, a culpabilidade do Dominique, hemos de convir que os dados em presença apontam muito mais para a conspiração que para a violação.
21.5.11
António Borges de Carvalho