UM FUTURO RISONHO
Decapitado que foi o PS pelas manobras neo-liberais da reacção, debate-se a organização com o problema de encontrar um líder à altura, ou à baixura.
Duas personalidades se agigantam perante o olhar extasiado dos militantes e a ansiedade de uma Nação inteira: o Seguro e o Assis.
Do primeiro, dão-nos as crónicas duas preciosas informações: a) o homem andou sempre a segurar-se e em segurança nas franjas do pintodesousismo, sem se comprometer com ele e b) o homem é o chefe da esquerda do partido.
Do segundo, não é preciso ir buscar informações às crónicas. O homem teve exposição suficiente para que possamos ter a certeza: a) que se fartou de falar, sempre de acordo com o chefe, b) que afinou o discurso segundo as conveniências do chefe, c) que fez tudo o que o chefe mandou, d) que se o chefe dizia mata ele dizia esfola, e) que repetiu até à exaustão todas as cassetes que o chefe lhe forneceu, tim-tim por tim-tim, sem falhas nem hesitações, as vezes que o chefe mandou, f) que foi duro quando o chefe andava duro e macio quando o chefe amaciava.
Neste ditoso panorama, é de referir o aspecto estético dos dois senhores. O Seguro segura uma imagem de rapazinho bem comportado, engravatadinho, sorridentezinho. Ao Assis assiste um ar de nortenha ferocidade, servida por invejáveis parietais e por recente e mal amanhada barbucha.
Um insinua, outro tonitrua. Um passa entre os pingos de chuva, outro anda encharcado. Um galula, outro balela. Um é magrito, outro gorducho.
Um é o chefe dos aparatchiks da província, outro dos das grandes cidades.
Um vai ganhar, outro perder.
Nós, ficamos na mesma. Tanto um como outro se propõem dar continuidade à obra do senhor Pinto de Sousa. Um pela esquerda santola, outro pela esquerda carapau.
A esquerda caviar, para já exclusivo do Louça, anda mal vista. Mas, se for preciso, até é saborosa, mesmo que com vinho verde em vez de vodka.
13.6.11
António Borges de Carvalho