NUESTROS SUEÑOS
Os objectivos das pequenas ou grandes multidões de inúteis que andam para aí a fazer manifestações contra a precariedade, que acampam no Rossio sob o terno olhar da dona Roseta vereadora, que se deitam no meio da rua com idiota dignidade, que andam de bicicleta a exibir as miseráveis carnes numa cidade qualquer da América do Sul, são lapidarmente sintetizadas num cartaz exibido em Madrid e publicado nos jornais.
Assim:
Nuestros sueños no caben en vuestras urnas.
Eles têm sonhos que nada têm a ver com a liberdade dos outros. Trabalhar faz calos. Votar não interessa. Eles são eles, os outros são os outros. Eles têm direitos que não se limitam nos dos outros.
Os operários da construção civil que sequestraram o parlamento às ordens do PC e do Vasco Gonçalves, também não tinham nada a ver com urnas nem com os direitos dos outros. As “massas” que apoiaram o Fidel e substituíram uma ditadura por outra, também nada tinham a ver com urnas, nem com votos, nem com direitos. Eram eles, só eles, que se achavam no direito de ditar o que lhes apetecesse.
Nas ruas de hoje, são os mesmos “sentimentos” que, perante a comoção “solidária” das rosetas deste mundo, comandam uma juventude que insiste em perder qualquer sombra de sentido da responsabilidade, ou que é movida por insuspeitos cordelinhos. Não têm uma única solução a propor para os problemas que afligem a sociedade. Não têm uma só iniciativa que dê trabalho ou o implique. Querem mostrar-se para ajudar a desorganizar ainda mais um mundo em convulsão.
Os sonhos deles não cabem nas nossas urnas. Pois não. As urnas podem estar na origem de muitas asneiras, mas a diferença é que nas urnas cabem os sonhos de todos, ou os sonhos de ninguém. Mas cabem lá todos, mesmo os que sonham com pôr os demais a não poder sonhar.
14.6.11
António Borges de Carvalho