BASILICES HORTíCOLAS
Gloriosa inflorescência do regime deposto, o actual camarada Basílio Horta deu um ar da sua graça na SIC, a convite do tipo do lacinho que é patrão da “economia” do “Expresso”.
Ficàmos, por ele, a saber que o PS, partido de sua terna afeição, jamais irá além dos compromissos que subscreveu com a trempe. Jamais!, como diria o celebérrimo Lino. E até, frisou a hortícola criatura, essa da TSU, mesmo assinada negociada e assinada pelo chefe Pinto de Sousa, é coisa que tem que ser vista.
“Eu sou anti-liberal!”, vociferou Basilio. Tal e qual o Doutor Oliveira Salazar, desta vez em versão proto-socialista.
Confessa-se basilarmente “democrata cristão”, coisa quase tão ultrapassada como o socialismo esquemático do MPLA.
Não se perde nada em olhar um pouco para o percurso deste grande democrata. Fundador do CDS, partido anti-socialista, ministro não sei de quê, homem da AD - organização anti-socialista -, candidato a presidência da Republica contra os socialistas, o homem atravessou uns tempos num limbo, depois foi nomeado pelo senhor Barroso embaixador na OCDE – parisiense refrigério! – e por lá tratou de continuar sob a tutela do senhor Pinto de Sousa.
Tão grato este ficou pelo universalmente admirado consulado hortícola em Paris, que o chamou para o comando da agência comercial do regime pintodesousista, onde se gaba de ter feito mundos e fundos, coisa que não se nota mas que deve ser uma insofismável verdade socialista.
Depois, foi fácil. Tratando-se, como gloriosamente afirma, de um democrata cristão, nada melhor que passar a deputado socialista. Não. Não se tratou de aceitar um empregozinho qualquer. tendo sabiamente preveisto a chegada de outra ordem de coisas, é certo que pensado que o tachinho viria a estar em causa. Daí, douta decisão, lá vai ele para o parlamento pela mão do seu bem amado chefe.
Estão a perceber?
E bonito, cristalino, admirável. Não e?
Apesar desta gente que ganhou as eleições, “somos forçados a ter uma perspectiva positiva”, informa-nos o notável Basílio. Tem razão. Pelo menos no seu caso, em vez de ficar no desemprego, fica na Assembleia, o que é extremamente positivo.
Mas, avisa, não se pode abdicar da “crítica” e dos “princípios”. Que princípios, não esclareceu nem nos é dado imaginar quais sejam.
Os ministérios actuais são “ingeríveis”, aponta. E esclarece que, quando ele lá esteve, com dois ou três ministérios, a coisa era diferente. Sendo ele o ministro, então tudo era gerível, e bem!
Estão a perceber?
E mais opina que, ao contrário do que se passava no tempo dele, agora é preciso acabar com a chusma de assessores, de motoristas e de contínuos que assolam os gabinetes. Tem toda a razão. Estes tipos não merecem tais mordomias, como ele merecia.
Estão a perceber?
Retirar o Estado da economia, jamais! Mais uma vez, animado por doses industriais de linolina, o homem, qual Jerónimo, qual Louçã, qual Mussolini, recusa essa abominável e liberal intenção. Trata-se de “princípios”, gaita!
Estamos perante “uma experiência em que não alinharei”, disse, do alto da sua doutrinária dignidade, peremptório e esclarecedor. Fiel ao socialismo. Coerente. Credível. Em suma, admirável.
O IRRITADO, alma entregue a liberais demónios, passou vinte minutos a ouvir o senhor Basílio com vontade de vomitar.
O IRRITADO tem, de ideias, de princípios e de coerência um conceito totalmente viciado e incompatível com basílios.
Não há nada a fazer.
Se não se põe a pau, o IRRITADO ainda vai parar ao inferno, empurrado por algum “democrata cristão” tão fundamentalista quanto o inigualável Basílio Horta.
27.6.11
António Borges de Carvalho