AUTORIDADES
O IRRITADO não sabia que existia uma ANSR (Autoridade Nacional da Segurança Rodoviária), certamente mais uma entre a miríade de “autoridades” criadas pelo nacional-pintodesousismo vigente até há dias, mas que continua a produzir os seus efeitos.
A notável organização declarou oficialmente que, em 2010, prescreveram nada menos que 267.212 multas, das 586.109 que ficaram por pagar em 2009. Uns meros 50% das que estiveram sob a alçada da autoridade da Autoridade.
Nada de espantar. Toda a gente sabe como “funcionam” estas coisas, sem excepção “vítimas” de inúmeras limitações, a começar na “falta de pessoal” e a acabar na nacional incompetência.
No entanto, corações ao alto! A douta Autoridade acha, em alegada autocrítica, que o número de prescrições “é superior ao desejável”.
Daqui se conclui que, para a distinta organização, há um número “desejável” de prescrições. O relatório não diz qual, mas os portugueses podem ficar muito mais descansados: têm a hipótese de apanhar multas que caiam nas prescrições desejadas pela Autoridade, assim ficando autorizados a não as pagar.
Por outras palavras, dada a eficiência do trabalho desta gente, só quem for parvo pagará multas voluntariamente, uma vez que, não pagando, tem 50% de probabilidades de jamais as vir a pagar, ou porque a Autoridade se esqueceu delas, ou porque caíram no grupo das “desejáveis”.
Não há quem não saiba que o sistema das multas é de uma estupidez sem limites. É-o em si mesmo, como o é pelos “critérios” com que é aplicado pelos chamados “agentes da autoridade”. Por excesso ou por defeito, o cidadão sujeita-se às mais incómodas consequências dos seus impensados actos, ou dá consigo em situações de pura impunidade*.
Um bocadinho de inteligência para alterar o sistema e um bocadinho de educação dos agentes para que ajam com alguma lógica, talvez não fossem de pôr de lado por parte da Autoridade, em vez de andar para aí a queixar-se que lhe “faltam técnicos superiores” e a proclamar que há prescrições "desejáveis".
30.6.11
António Borges de Carvalho
*Por exemplo, os rapazolas da EMEL, se um tipo não pagou o estacionamento, têm duas opções, que usam segundo o seu altíssimo critério. A primeira consiste em deixar um papelinho a solicitar ao caloteiro que pague, no multibanco, a violenta quantia de 4 euros, ou coisa que o valha. A segunda é a de bloquear a viatura e fazer o caloteiro pagar pelo menos uns 70 euros de multa, mais outro tanto de reboque. Isto, se não se vir obrigado a ir a casa do diabo envolver-se na mais intricada burocracia para reaver a carripana.