ATÉ O SAPATEIRO!
Ao despedir-se das Cortes, o primeiro-ministro espanhol declarou-se culpado por ter desvalorizado a crise e por alguns outros dos seus erros.
Ainda que, no nosso caso, o chefe dos socialistas esteja politicamente morto e enterrado (wishfull thinking!), não é demais sublinhar a diferença.
O senhor Pinto de Sousa nunca admitiu qualquer erro, nunca pediu desculpa fosse do que fosse e, mesmo quando a desgraça estava já à vista de toda a gente, gorgolejou que a culpa era dos outros. O único discurso minimamente decente com que brindou a Nação (ao ir-se embora) foi escrito pelo Almeida Santos e, mesmo nessa prosa, não deixou de se gabar.
Como foi isto possível?
Passo a explicar.
Foi possível porque o presidente da república Sampaio liquidou um governo de maioria para pôr no poleiro o seu camarada Pinto de Sousa.
Foi possível porque os portugueses se deixaram enganar pelas manobras conjuntas do senhor Sampaio, do senhor Marcelo de Sousa e do senhor Cavaco Silva, retumbadas pelos media.
Foi possível porque o senhor Constâncio inventou um orçamento aldrabado.
Foi, finalmente, possível, porque o senhor Cavaco Silva, sabendo perfeitamente o que se estava a passar, achou que o maior problema da Nação era a sua reeleição e manteve, por isso, o senhor Pinto de Sousa no governo.
E ainda há quem seja republicano!
30.6.11
António Borges de Carvalho